domingo, 18 de abril de 2010

"O padre e a moça" por Kianny Martinez.



Segundo longa-metragem dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, O padre e a moça, possui uma instigante independência e até certa distância de tudo que já foi nos apresentado anteriormente a título de cinema brasileiro, apesar de evidenciar certa empatia com o cinema novo. Cinema novo sim. No aspecto que se refere, esteticamente, a uma visão totalitária do país. Assim usa a grande alegoria dos personagens que vão em direção ao horizonte que trará mudança ou representará grande luta. Fato que ainda hoje é existente, como dito por Arthur Autran no texto "Cinema e História nos anos 90" (Contracampo n. 26) – “Servem de apoio a diversos filmes conformistas, através da imagem de "um belo sol no horizonte" a exprimir que "a palavra de ordem é manter a esperança".

É um filme com um enredo quase que sufocante, com personagens presos as suas próprias vidas e a própria cidade onde vivem. Além de possuir vários saltos no tempo, cena confusa que não se sabe ao certo, mas parece ser um flashback, vergonhas escondidas, mistérios, contenção... A fotografia é em sua maior parte trabalhada com planos médios que reforçam ainda mais essa idéia de distância, de prisão dos personagens e num jogo de luz belíssimo, com um tipo de imagem mais europeu. Como a intrigante história amorosa, vemos ainda a estagnação social na qual vivem todos na pequena cidade e econômica, como no tempo do coronelismo onde até o Padre era meio que manipulado para ‘estar de acordo’ com tudo que acontecia numa certa conformidade que se expande a todos. Com tudo isso filme ainda possui um caráter bastante poético, principalmente a fotografia.

A Física não se sabe ao certo o que perdeu, mas o Cinema ganhou bastante quando Joaquim Pedro de Andrade nos agraciou com esta obra prima que é O padre e a moça. Joaquim que na maior parte de sua vida conviveu com um dos grandes poetas brasileiros, Manuel Bandeira. Viria desse convívio esse tom indiscutivelmente poético e sublime que este filme possui? Ou seria influência de outra obra prima que são os poemas do mineiro Drummond? Minas que serve também de pano de fundo para a trama. Dúvidas a parte o que vemos na tela é o resultado que mescla poesia sublime e conflitos da vida cotidiana e singela. Tão belo e tão mágico quanto Limite, de Mário Peixoto, no quesito fotografia.

Sem mais comparações e indagações é um filme que possui destaque na filmografia brasileira, não tanto quanto Macunaima, do também Joaquim Pedro, mas é bastante válido vê-lo tendo em vista sua história cheia de conflitos e questionamentos morais e sociais, sua fotografia esplêndida, além de ótimos atores.

Como aluna do curso de cinema da Universidade Federal de Pernambuco, fico convicta que é de grande validez ter tido a oportunidade de conhecer esta espécie rara de tesouro cinematográfico nacional que é O padre e a moça. Recomendo a todos.

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