sábado, 5 de dezembro de 2009

"As luvas mágicas" por Juliana Ribeiro


O porquê do título desse filme de Martin Rejtman se perde devido à quantidade de coisas extremamente absurdas que se passam num curto espaço de tempo. Vários relacionamentos se constroem e se rompem, e ao mesmo tempo pouco sentimos suas repercussões, pouco o tempo é dentre um fato novo e outro.

Alejandro é um taxista, tem amigos não tão convencionais, que gostam de música menos convencional ainda, e tentam a todo custo deixá-lo surdo, mas nem todos entendem essa surdez. Ele resolve vender seu carro para investir no negócio de luvas mágicas, que acredite ou não, realmente existe (nunca tinha ouvido falar), coisa de argentino. Bem, as situações mais cotidianas são retratadas de maneira tão peculiar e histérica, que fica difícil de acreditar que esse tipo de negócio realmente exista.

O novo cinema Argentino é bem recebido no cenário mundial principalmente pela forma como representa o cotidiano de maneira cômica, estranha, comum no aspecto da circularidade da vida de todo dia como em Whisky. A empatia que temos com os personagens de As Luvas Mágicas é criada pela forma como dançam, pelos diálogos entrelaçados, que começam numa cena e são reiterados em outra totalmente diferente, e no meu caso, pela hipocondria. A presença dos calmantes é posta de forma teatralmente hilária, só fico decepcionada pela dosagem ter diminuído com o tempo (quem começa com Valium e termina com Rivotril?), deve ter sido essa a intenção.

O filme é curto e quando termina passa a sensação que é cada vez mais comum no cinema Argentino de que o final ainda estaria por vir. O que é perfeitamente aceitável subentendendo-se que a vida dos personagens ainda continua, e que não é necessário um final real para cada passagem dessas vidas. É um tipo de abordagem que pode facilmente destruir o filme para o público, mas não é o caso de As Luvas Mágicas. O filme é tão prazeroso, que apesar do final súbito, passa a sensação de ter sido bem resolvido quanto à proposta.

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