quinta-feira, 24 de junho de 2010

“Amores Brutos” de Alejandro Gonzalez Iñarritu, por Rafael de Almeida


Sempre gosto de escrever minhas críticas ou resenhas assim que termino de ver o filme. Até hoje não me lembre de ter escrito sobre um filme que vi a menos de 24 horas. É sempre assim: assisto e na primeira oportunidade diante do computador, vou digitando minhas impressões enquanto elas ainda estão fresquinhas na minha cabeça. No entanto, já faz, creio eu, uns três meses que assisti Amores Brutos de Iñarritu e a enorme quantidade de filmes que tenho para assistir e coisas que tenho para fazer me impedem de rever o filme para clarear minha memória. Mas uma vontade imensa de falar sobre este filme me fez fazer essa experiência: escrever sobre um filme que vi apenas uma vez há um tempo enorme. Por quê? É o que descreverei.

Naturalmente, fiz uma rápida busca no Google para lembrar os nomes dos personagens e algum detalhe importante da sinopse. Amores Brutos é um crossover de três histórias que estão pictoricamente interligadas pela figura de um cachorro (daí o nome original do filme “Amores Perros”). A primeira trama acompanha Octávio (Gael Garcia Bernal), um rapaz pobre, que está apaixonado pela esposa de seu irmão mais velho e violento. Octávio decide então, fugir com a garota e para isso junta dinheiro através de brigas ilegais com cachorro. Em contraponto Valeria (Goya Toledo), uma modelo rica e famosa, está se mudando para um novo apartamento para morar com Daniel (Álvaro Guerrero) que finalmente decidiu largar esposa e filhos para ficar com a moça. Ela não imagina que sua vida vai mudar depois que seu cachorrinho se meter debaixo do assoalho da casa. Finalmente temos Chivo (Emilio Echevarría), um velho de rua que foi separado da filha e ganha a vida matando pessoas. A solidão de Chivo é compensada por um bando de cachorros que ele cria.

Finalmente, um acidente de carro encontra essas três tramas, até então isoladas, unidas apenas por um crescente que anunciaria uma tragédia. O desenvolvimento das histórias serviria como pano de fundo excelente para telenovelas, mas até certo ponto. Iñarritu abre mão de um melodrama convencional e termina todas as tramas de uma maneira triste e solitária. A desilusão de um amor platônico, a solidão, o fim de toda uma vida, a saudade incurável são os temas pelos quais Iñarritu passeia sem dó e piedade. Mesmo a aparente redenção de um dos personagens termina sem uma conclusão esperada pelo mesmo (e pelo público também).

O realismo frio de Iñarritu é transpassado também através da fotografia escura, pálida e pouquíssima saturada. A agilidade da edição poderia ser uma contradição em uma história tão densa e pesada. Porém, a fragmentação das tramas (contadas em paralelo durante o filme), a câmera sempre a mão me parecem uma metáfora não só das mentes desfiguradas que preenchem o filme como também uma maneira de mostrar que tudo aquilo está sempre se movimentando para chegar a um ponto comum. Se Iñarritu pensou assim não poderia dizer, mas pra mim me parece uma interpretação cabível.

Diante de uma obra tão bem construída narrativamente, levando em consideração que o roteiro desconstruído do filme não causa confusão no espectador, dada a boa mão e timing de Iñarritu, e a um conteúdo tão tridimensional e duramente real, fica muito claro por que este filme ficou tão marcado em minha memória e por que consigo discorrer sobre ele com certa facilidade. É um filme muito humano, com personagens muito reais com uma conclusão surpreendente e reflexiva.

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