quinta-feira, 24 de junho de 2010
“Temporada de Patos”, por Paulo Fernando de Sá
Filme que remete a moderna proposta do retrato das questões menos ou nunca militantes do cinema latino-americano contemporâneo. Assim poderia ser definida a obra do diretor Fernando Eimbcke, vencedora de vários prêmios em festivais ao redor do mundo e principalmente na América-Latina. O filme narra um dia de domingo na vida de dois adolescentes, Moko e Flama, os quais apenas se importam em curtir a morosidade do dia através do videogame, muita comida e muita coca-cola, após serem deixados sozinhos em casa. No decorrer da história, há espaço ainda para a vizinha de Flama, que pede para usar o forno de sua casa, além do entregador de pizza, que acaba passando o dia com os demais personagens no apartamento, devido a um desentendimento com os adolescentes.
Através de uma fotografia em preto e branco extremamente suave, enquadramentos que metricamente provocam dificuldades para apontar erros, planos longos, e seus silêncios intermináveis, o filme atende perfeitamente a sua proposta de tratar de um tema estritamente banal, um dia na vida de dois garotos da classe média mexicana – que não curiosamente poderiam ser de várias outras nacionalidades. Esta na verdade é a tendência que o cinema latino-americano vem seguindo desde que saímos aos poucos das abordagens temáticas da corrente dos nossos tão consagrados cinemas novos, onde Glauber Rocha e Fernando Solanas, assim como seus companheiros da mesma época e os seus sucessores, por exemplo, nunca pensariam em fazer cinema como o fez Fernando Eimbcke e tantos outros cineastas.
A rejeição a temas políticos e militantes, porém, não faz de filmes como Temporada de Patos obras não merecedoras de atenção. A estética fotográfica do filme, por exemplo, é um aspecto muito bem trabalhado e explorado, assim como a trilha sonora, com suas perfeitas sincronias – a seqüência em que o entregador de pizza está no caminho do conjunto habitacional, onde se encontram os garotos, é um ótimo exemplo de harmonia entre trilha sonora, sonoplastia e fotografia. É válido ressaltar a exploração de fatos e momentos na vida dos personagens que para outras épocas do cinema seriam completamente descartados – como as inúmeras seqüências de puro silêncio entre os personagens –, enquanto no filme de Eimbcke a proposta é mostrar justamente o conjunto de tais acontecimentos, fatos simples e recorrentes.
Diante de tais pontos e argumentações, não é difícil a percepção da real mudança no rumo temático e estético do cinema latino-americano contemporâneo, o qual continua demonstrando enorme riqueza em suas produções e cada vez merecendo mais atenção.
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