quinta-feira, 24 de junho de 2010

"Amores brutos", por Renata Monteiro



“Ia-se ao cinema ver Memórias do subdesenvolvimento (Tomá Gutiérrez Alea, 1968), por exemplo, para saber como andava a situação em Cuba. Certamente hoje ninguém vai ao cinema ver Amores brutos (Alejandro Gonzáles Iñárritu, 2000) para saber como anda a situação no México, e sim para encontrar um certo ‘estilo’, uma estética particular, uma maneira plástica e cinética de olhar e sentir o mundo” (Andréa França, Cinema de Terras e fronteiras; História do cinema mundial). Como exemplificado na passagem acima, o filme do diretor estreante Iñárritu não tem como intuito uma retratação da história de seu país de origem, não aborda temáticas políticas e não tem como objetivo a denúncia da situação de diferenças sociais da população da Cidade do México. Apenas retratar essa sociedade de uma maneira “crua”, sem preciosismos, e em cima disso acrescentar uma abordagem original, enriquecida de uma linguagem própria.

O grande encanto de “Amores brutos” é o seu estilo único, irreverente e inovador. Sendo o filme de estréia do diretor, ele contou com atores estreantes e baixo orçamento, e mesmo assim construiu uma obra de referência na atual produção mexicana e reconhecimento mundial. O diretor seguiu com obras que possuem o mesmo diálogo, o de apresentar histórias distintas que se unem a partir de um acontecimento. No caso de “Amores brutos” é um acidente de carro, que relaciona a vida de Octávio, Valeria e Chivo entre si. Octávio (Gael García Bernal) é um jovem que mora na violenta periferia da Cidade do México. Ele é apaixonado por sua cunhada, Susana, e para conseguir dinheiro e fugir com ela de seu irmão agressivo, ele coloca seu cachorro Cofi em brigas de cães. Valeria é uma modelo que vive um caso com um homem casado, Daniel. Ele tinha acabado de se separar de sua mulher para viver com ela, quando o acidente acontece. E Chivo é um ex-professor universitário, que largou a família para se tornar um guerrilheiro. Depois de vinte anos preso, sua filha pensa que ele está morto, ele vive nas ruas como um mendigo e é um matador de aluguel. Três realidades diferentes que juntas representam muita coisa em comum. Angústias, medos, provações, arrependimentos, são sentimentos que compartilham, além de verem o rumo de suas vidas mudarem depois do acidente. A narrativa intercalada sugere as conexões entre os personagens, e a relação em que cada um tem com os cachorros nos faz refletir sobre a sociedade retratada e a violência inserida nela. O mundo selvagem dos animais e o humano são colados em comparação. A mesma ferocidade em que o cão briga e mata é a que os personagens estão embebidos em seus problemas pessoais.

Cheio de violência e pessimismo, “Amores brutos” carrega esse caráter jovial transmitido pelo diretor, são câmeras na mão, montagem rápida e uma fotografia escura que enriquecem muito a narrativa densa. Dividido em três capítulos, cada um com o nome dos personagens em questão, identificamos a temática principal: relacionamentos. Seja como for entre animal e homem, entre amantes e entre família, suas atitudes e as conseqüências trazidas pelo destino, retratam essas relações brutas. Trazendo à tona uma série de reflexões a partir das problemáticas tratadas, o filme despeja uma carga intensa de emoções e aflições no espectador, o que não o torna difícil de se ver, mas sim difícil de esquecer.

Referências:

FRANÇA, Andréa.//Cinema de Terras e fronteiras.//In:/História do cinema mundial.//páginas 395 à 412.

Acessado em 22 de junho de 2010.

Amores perros review
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