sexta-feira, 25 de junho de 2010

"morango e chocolate", por Luizy Silva

Vladimir Cruz

Alea


Morango e Chocolate integra a filmografia de um dos cineastas de maior relevância de Cuba. Tomás Gutiérrez Alea, autor de obras primas como: A morte de um burocrata (1966) e Memórias do Subdesenvolvimento (1968) teve bastante reconhecimento internacional com o filme Morango e Chocolate (1994), co-produzido por Juan Carlos Tabío. Atuante desde os anos 40, ainda com documentários, foi o principal cineasta do governo de Fidel Castro, a partir de 1959, e refletiu sobre a prática de cinema num país subdesenvolvido. Mesmo sendo um cineasta político e pró-revolução, Alea sempre buscou a reflexão e fez questionamentos ao regime cubano. Assim como outros realizadores, fez parte de um movimento de resgate da identidade do cinema latino-americano (décadas de 60/70), em oposição ao modelo Hollywoodiano. Acreditava no cinema como instrumento político e de transformação social, ponto forte em suas obras.

O filme se passa em Havana pós-Revolução e mostra o surgimento de uma amizade entre dois cidadãos cubanos, Diego e David, que vivem em universos totalmente diferentes. Diego (Jorge Perugorría) é um artista homossexual, inconformado com a repressão da sociedade cubana. Ele é um crítico ferrenho à atual situação de Cuba, à falta de liberdade de expressão e à impossibilidade de abertura cultural da Ilha. David é um jovem estudante e integrante da Juventude Comunista, que se apresenta com uma postura moralista.

O encontro dos dois acontece, casualmente, numa lanchonete em Havana, após uma desilusão amorosa de David. Diego interessou-se por ele, inicialmente como uma possibilidade de romance, depois pela possibilidade de ajudá-lo a conhecer melhor o seu país e outras culturas (ampliar a sua visão de mundo).

Ao longo de todo o filme percebemos a presença de elementos que remetem à situação política do país. Imagens de Guevara ao longo da cidade, frases da revolução, enfim, são indícios de uma posição política do autor. Outro ponto que me chamou a atenção foi o sincretismo religioso. Imagens de santos (um altar com a imagem de Santa Bárbara) são misturadas a rituais da matriz africana (na cena em que Nancy faz um “trabalho” pra “amarrar” David ).

Assim como em outros filmes de Alea, Havana nos é apresentada com um caráter documental. O dia a dia da cidade, as pessoas, as habitações, tudo isso forma um painel de como é a vida em Cuba.

O apartamento de Diego é um universo a parte. Inúmeras referências à cultura latino-americana, como livros e discos (um livro de Mario Vargas Llosa e um disco de Maria Calla entre outras coisas), despertam a curiosidade de David, que passa a freqüentar o lugar. Percebe-se um amadurecimento dos personagens ao longo da narrativa. Não apenas a ampliação da visão de mundo de David, mas um olhar menos intransigente por parte de Diego. Os personagens vão influenciando um ao outro, construindo uma amizade sólida e mudando a visão de cada um sobre sexualidade, arte e, principalmente, sobre a situação política do país. David sai da condição de alguém autoritário e moralista para a de libertário.

Em resumo, Morango e Chocolate promove um embate entre dois personagens distintos, como forma de refletir sobre as conquistas e os problemas do comunismo, apontando para um novo caminho possível para a Ilha. O filme venceu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema de Berlim, em 1994. Foi o primeiro filme cubano a receber uma nomeação do Oscar para melhor filme estrangeiro.

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