domingo, 30 de outubro de 2011

"A dama do lotação (Neville D'Almeida), por Diogo Condé


A dama do lotação representa um dos maiores sucessos de público da história do cinema brasileiro, o auge de Sônia Braga como símbolo sexual da geração pornochanchada. Com elenco recheado de nomes importantes para a época, a adaptação da obra de Nelson Rodrigues de mesmo nome trata de vários assuntos, tais como liberação e descoberta sexual, paradigmas criados pela sociedade e a decadência da classe média. Exaltada pelo público, mas massacrada por críticos mais canônicos, é uma das pérolas dessa controversa fase do cinema brasileiro.

O filme conta a jornada de Solange (Sônia Braga) para provar para si mesma que não é frígida depois de seu recém marido Carlos (Nuno Leal Maia) ter um acesso de fúria com a falta de sexo e a estuprar, tirando-lhe a virgindade. A protagonista então passa a ter uma rotina de relações sexuais com estranhos encontrados nas lotações da cidade e algumas pessoas ligadas a Carlos sem sofrer nenhum remorso por isso, mesmo amando seu cônjuge.

O filme mostra uma classe média brasileira abobalhada e vazia, na figura de Carlos, seu pai (Jorge Dória) e Assunção (Paulo César peréio), esses três personagens em especial são os típicos burgueses machistas que parecem sempre ser superiores e cheios de razão, mas ao passar do tempo, cada um recebe a sua lição e cai numa crise de identidade provocada pela protagonista, uma bonita metáfora feita pelo autor, complementada pelo fato de Solange preferir se envolver com homens de outras camadas sociais, dando a entender que aquela classe média retratada é insuficiente.

Um ponto interessante defendido pela obra é a liberdade feminina, tema que estava em voga na época, não só na história principal, mas também no pequeno arco que expõe a história dos pais de Carlos, tendo uma relação interessante com o relacionamento do filho, pois os dois casos são bem semelhantes, mas no caso deles a mulher ficou presa às limitações de seu casamento, alimentando uma relação indesejada, já a protagonista correu atrás de seus desejos, isso pode ser entendida também como uma crítica às gerações passadas, com muito mais rigidez em relação a sexo.

Adaptação bastante fiel ao original, mostra Sônia Braga em sua melhor forma artística e física, um bonito Rio de Janeiro que complementa a beleza da história e trilha sonora composta com maestria por Caetano Veloso. Um filme para ficar na história, pois representa um cinema acessível, mas profundo e cheio de significados.

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