domingo, 30 de outubro de 2011

Os mexicanos pelos seus próprios olhos, por Vitória Victor




No México, os anos 1908 e 1909 foram marcados como anos de escassez de alimentos e pobreza, provocados por uma seca que prejudicou a produção agrícola de todo o país e desencadeou grandes cortes financeiros. É nesta situação, numa cidade rodeada de chinampas (tipo de canteiro flutuante construído para o cultivo de algumas plantas) chamada Xochimilco que vive María Candelária. Uma índia jovem, simples e inocente que vive no meio de um jardim suspenso.

Sua história é iniciada com um esclarecimento sobre suas origens. A mãe de María Candelária havia se prostituído e foi assassinada pelo povo da cidade por ser uma desonra para todos. Como filha da vergonha da cidade, María é tratada como uma praga e elemento de má sorte. A única pessoa próxima é Lorenzo Rafael, o homem com quem almeja se casar. Muitos eventos que atrapalham os planos do casamento acontecem, e neste meio tempo o pintor surge como uma figura caridosa nos momentos mais difíceis, e que carrega uma vontade pintar María Candelária. Após certa insistência o pintor começa a retrata-la, porém sua intensão era pinta-la nua, o fato não acontece e o corpo de María Candelária é substituído pelo de outra índia. Uma moradora da cidade vê a pintura e espalha seus “atos errados”, o povo une-se a sua caça. Perseguida e apedrejada, Maria Candelária morre repetindo não ter feito nada errado.

Entre os 100 melhores filmes mexicanos, a obra María Candelária (1943) de Emilio “Indio” Fernández é o filme de maior consagração do diretor. Com uma maneira diferenciada de falar sobre mexicanos, justamente por ser obra de um mexicano. Nesta narrativa o índio torna-se o ponto máximo de orgulho por ser digno e puro, contestando as muitas vezes em que foram vistos como selvagens, preguiçosos, bandidos e sem caráter. O filme trás uma imagem romantizada excessivamente e não retrata com fidelidade a situação pré-revolucionária que o México estava passando. Em certos momentos o diretor parece por suas palavras para serem ditas pelo pintor, como quando fala da idealização da imagem pintada de María Candelária, diz: "esencia de la raza mexicana, delicada, emotiva y maravillosa".

O longa-metragem aplica bem as trilhas sonoras, que se desenvolvem no ritmo da trama, passam de som de fundo leve, para suspense e até a uma concretização do medo.
Com uma fotografia destacada de composições firmes de quadro, determinante para o resultado final. A cenografia é trabalhada diretamente no local real retratado, em Xochimilco, juntamente com a fotografia temos um conjunto admirável na tela. Os trabalhos de figurinos dos personagens devem ser ressaltados principalmente o de María Candelária, a índia transmite uma imagem ainda mais pura pelo modo que coloca o xale sobre a cabeça e sua postura, esse é um movimento proposital já que se busca uma proximidade com a Virgem de Guadalupe.

A indústria de cinema mexicano no final da década de 30 começou o período conhecido como "época de ouro" do cinema mexicano. Sempre pelos parâmetros de plástica perfeita ditados por Hollywood, Dolores del Rio como María Candelária é uma reafirmação disso. Com uma linha narrativa facilmente identificada e sem muitas reviravoltas, o drama tem uma relevância enorme não só para mexicanos, mas para todos que estão interessados em observar leituras diferenciadas da cinematografia de um México que quase sempre sofreu estereotipações.

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