domingo, 30 de outubro de 2011
La Muerte de um Burocrata (1966), por Angélica Santana
Sob o disfarce do humor com refinada ironia, emerge uma narrativa com o compromisso de denunciar o absurdo que é teia burocrática. Isso não é feito com falsa modéstia, desde os créditos Tomás Gutiérrez Alea, o diretor, oferece o filme a todos os grandes nomes do cinema desde os Lumiére. Assim, deixa claro que não tinha nenhuma pretensão de entregar um filme medíocre, mas uma obra que além de manifestar qualidade técnica, retrata fielmente o que incomodava a Cuba da década de 60.
Um homem é morto pelo seu próprio trabalho, assim começa a história de “La Muerte de um Burocrata”, um proletário acaba sendo engolido – literalmente – pelo modo de produção industrial. Tamanha era a sua dedicação ao ofício que é decido que será enterrado com a sua carteira de trabalho. E assim se desenrola uma sucessão de eventos que levam o seu sobrinho a se envolver num espiral de requisições, assinaturas e carimbos para reaver a carteira.
Talvez uma sequência resuma todo o espírito do filme. Na entrada do Departamento de Aceleração de Processos – onde o protagonista é enviado de mesa em mesa sem que ninguém pareça estar de fato interessado na resolução do seu problema – está pendurado o seguinte cartaz “Departamento de Aceleração de Processos: 1° Lugar no Campeonato de Pingue-Pongue”. Nada poderia ilustrar melhor o conceito de burocracia do que isso.
Uma campanha é lançada perto do fim do filme: “Muerte a burocracia”, já fica expressa a intenção do autor. A morte agora não é direcionada ao burocrata, como no título do filme, mas à burocracia. E é por essa causa que a narrativa milita em meio a um humor comparável a Monty Python. Nenhuma sequência é sem propósito, nenhum diálogo se perde diante da vontade urgente de evidenciar o absurdo que é a burocracia.
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