domingo, 30 de outubro de 2011

"Soy Cuba", por Heitor Dutra


Uma voz feminina, no início do filme se apresenta: sou Cuba. Quem é Cuba? Essa resposta ninguém tem, talvez esse filme tente responder quem é Cuba nesse momento.No momento pré revolução. Uma só história não daria conta, não. Ou daria, perfeitamente.Mas a questão é a abrangência, talvez a megalômania soviética do momento, talvez a tentativa de mostrar, quem são os cubanos no momento, como sofrem e como riem. Há, de fato, a exaltação do povo cubano, e a destruição da imagem dos americanos, já que falamos de um filme rodado em mil novecentos e sessenta e quatro, quando Cuba já tinha passado pela revolução, por um cineasta russo no auge da guerra fria. De qualquer maneira, talvez nada disso importe nem um pouco. Talvez sirva como documento para algumas coisas, sim. Mas o que fica desse filme, deste novo filme redescoberto, não é tanto o milagre caribenho da mudança somente (como se fosse "somente"), mas uma experiência cinematográfica ímpar.

O filme é praticamente todo rodado em planos sequência. Mas há outros truques, há momentos em que a câmera é suspensa em fios e parece voar sobre as multidões, ou os coqueirais, a câmera pousa, e imediatamente alguém a apanha e continua a rodar.É incrível. Num momento do filme, um manifestante caí de um prédio, a câmera se coloca no lugar do indíduo e sentimos a vertigem de despencar. Essa alteridade da câmera faz o espectador realmente sentir na pele, os jatos de água, as explosões, a dança. É imersão.

O animado vendedor de frutas, (que vende outras coisas mais para quem se interessar) se engraça com uma mocinha. A mocinha descobre as "facilidades" com os repugnantes gringos, na boate ela dança freneticamente, inicia como se doesse nela estar ali. Uma espécie de fuga dentro do salão de dançase inicia, insinua um movimento de braço que lembra Pina Bausch, enlouquece, seu corpo (a câmera e nós) não segue nada além da loucura total daquele momento, daquela situação. O gringo conhece a casa dela, onde, tira dela certa inocência e seu crucifixo, sua fé por dólares. Mas que fé? Ao sair do barraco, o gringo vê Cuba, e não é tão bela como os grandes hotéis e os bórdeis com cortinas de bambu. Está na lama, com velhas fumando charutos enormes, crianças pedindo dinheiro. A voz feminina dispara: "Sou Cuba. Não vieste aqui para se divertir? Então divirta-se."

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