domingo, 30 de outubro de 2011
Memórias do subdesenvolvimento, por Bárbara Kathleen N. Canto
O filme se baseia no romance de Edmundo Desnoes e se reporta ao conturbado período político cubano, em que mesmo já consolidada a revolução, ainda havia dentro da ilha muitos descontentes com os rumos socialistas que o novo governo estava então adotando como nova prática social, econômica e política de Cuba.
Nesse contexto, ainda no início do filme, em meio a uma festa, onde havia muita gente presente, uma pessoa é assassinada, e mesmo assim, a festa continua, demonstrando como o clima ainda estava tenso em Cuba, além de uma inquietante indiferença, como se tal fato fosse quase corriqueiro no país, isso, dez anos depois da revolução ter saído vitoriosa, ainda encontra-se várias pessoas – na maioria burgueses – se auto-exilando, deixando Cuba por não compactuar com o novo regime, é claro que em grande parte se dirigiram à Miami, que sempre foi o destino mais procurado pela burguesia desta região do Caribe.
A partir de então o filme passa a contar a estória de Sérgio Carmona, personagem principal do filme: um burguês que após embarcar sua família e esposa para Miami, decide ficar para poder fazer uma crítica ao novo regime, de dentro do país. Decide escrever um livro ou diário e vai narrando e mostrando com exemplos de coisas cotidianas como, por exemplo, a falta de brilhantina Yardley e de creme dental Colgate, considerados como “produtos imperialistas” – clara ironia do personagem em relação à postura do novo governo no que diz respeito a tudo e qualquer coisa oriunda dos Estados Unidos - mudando totalmente os rumos do país, que até pouco tempo, não passava de parque de diversões e explorações - quer seja sexual quer seja econômica – pela alta burguesia estadunidense.
No filme todo fica latente o descaso com que o personagem trata seu país: para ele, Cuba não passa de uma ilhazinha subdesenvolvida e atrasada, e seus habitantes, pessoas de pouca educação e deficiente traquejo social, especialmente as mulheres. Enquanto que, por outro lado, o ideal de civilidade e progresso são justamente, os Estados Unidos e a Europa, o que nos remonta ao sentimento do eterno colonizado, tão presente na cultura da América Latina em geral, e que fica claro quando ele cita que durante algum tempo, Havana fora considerada a “Paris do Caribe”, e agora não passa da “Tegucigalpa do Caribe”. Será que ele está se referindo ao tempo em que Havana, não passava de um grande prostíbulo para a alta burguesia destes lugares, verdadeiros reinos da civilização ocidental? Provavelmente.
O sentimento de colonizado se manifesta até em suas relações amorosas. O personagem se decepciona com a moça com que está se envolvendo, Elena, porque esta não compartilha seu ideal de sofisticação (europeu, logicamente), ela o lembra do subdesenvolvimento de Havana, “a cada passo”, como ele mesmo diz.
Em suma, o filme é um excelente exemplo de uma atitude de submissão que foi tão praticada por nós latino americanos em relação a Europa e Estados Unidos. Mais uma das características que antes podia-se dizer que nos marcava. Porém hoje, é mais difícil de se encontrar esse tipo de postura, não que não mais exista, mas sim, que está em processo de extinção, e a partir desses novos rumos que vem se desenvolvendo em meio a conjuntura político-econômica que se desenha, podemos vislumbrar um futuro, em que todos nós latino americanos, não almejaremos ser nada mais nada menos que nós mesmos.
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