domingo, 30 de outubro de 2011
"ANJOS DA NOITE (Wilson Barros - 1987)", por Thierry Fernandes
A história da noite paulistana contada através daqueles que a fazem, revelando segredos que permanecem escondidos ao cair da noite, e que só os freqüentadores das ruas e vielas sombrias podem saber. Anjos da noite representa um recorte da vida paulista noturna que permanece agitada mesmo longe dos holofotes.
O filme de Wilson Barros pode ser considerado uma explosão de formas, utilizando os recursos do cinema dos mais variadas formatos, ele abusa da construção fílmica e realiza um longa repleto de técnicas e meios pertencentes as mais diversas escolas do cinema.
Com uma montagem fragmentada, o filme nos confunde e insiste em permanecer confuso todo o tempo, nunca sabemos se o que está na tela é realmente a verdade, mas do que importa saber a verdade. Wilson nos prende através de uma trama que não parece lógica, e que talvez não seja. Cada pedaço dessa alegoria nos remete a um novo conflito a cada instante, e essa brincadeira de adivinhe se puder é muito eficaz.
Enquanto assistimos ao filme vemos características do noir americano, seguido das formas expressionistas, há também uma descontinuidade própria do cinema underground e de vanguarda, números musicais, e o uso das técnicas teatrais de Brecht para quebrar a barreira entre real e imaginário.
Em vários momentos do filme vemos os atores olhando para câmera e nos desafiando a entrar na história, isso como se já não estivéssemos dentro dela. O bom disso é que ele se utiliza do cinema da maneira mais abusiva e nos diz na cara limpa que é isso mesmo. Ele nos diz claramente que aquilo é um filme quando a personagem de Marília Pêra (Marta Brum) fala para o personagem de Guilherme Leme (Teddy): “... a gente faz como no cinema, quando eu disser já você fecha os olhos...” e eles aparecem na porta do apartamento com Teddy admirando o feito cinematográfico.
Essa mistura toda faz um filme que prioriza o significado das imagens e uma narrativa descontinua que introduz o verdadeiro conteúdo nas suas entrelinhas. Anjos da noite só peca em alguns momentos pela sua trilha sonora abusiva e desnecessária, que atrapalha o êxtase dos momentos. Se isso também era proposital, não sei, mas deve-se tomar cuidado com o exagero. Se o filme inteiro se passa dentro de outro filme ou de uma peça teatral é difícil responder, mas a magia e as sombras da noite paulistana são mostradas com certeza no longa-metragem de Wilson. Um quebra-cabeça minucioso e audaz.
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