domingo, 30 de outubro de 2011

"Soy Cuba", por Diana Maria de Santana


Soy Cuba, filme dirigido pelo soviético Mikail Kalatozov e objeto dessa análise, foi produzido com a intenção de estreitar os laços entre a União Soviética e Cuba além de exaltar o Socialismo.

O filme começou a ser produzido no início dos anos 60, pouco tempo depois de a Revolução Cubana conseguir implantar o regime socialista no país e narra, através de quatro histórias, o fim do governo ditatorial de Fulgêncio Batista até a vitória da citada Revolução.

A narração é feita pela personificação de Cuba, lamentando o sofrimento de seu povo, que sofria com graves problemas sociais contrastantes com o luxo e a riqueza existente nos night clubs e cassinos destinados a uma minoria privilegiada.

Logo no início da narração é possível notar um discurso bastante previsível sobre a questão do colonizado, visto como ingênuo, que acreditava ser o colonizador uma espécie de salvador e o recebia com alegria na esperança de que este trouxesse benesses para o país. Segue-se com um interessante paradoxo sobre o açúcar, na tentativa de explicar a relação de dominação e exploração que os EUA mantinham sobre Cuba, através da importação de tal mantimento. “Estranha coisa há no açúcar. Tanto pranto há nele e, no entanto é doce.” É interessante colocar que, uma das formas de tentar deter o avanço do projeto socialista cubano, por parte dos EUA, foi justamente a suspensão das importações do açúcar.

Cuba, após sua Independência, passou a ser uma espécie de “quintal” dos EUA que, além de abrigar grandes empresas estadunidenses, também servia como local de diversão, onde tudo era permitido e a exploração sexual ocorria livremente. Era o paraíso tropical da burguesia.

A primeira história do filme trata dessa realidade: uma moça que trabalha num cabaré e esconde sua condição do namorado, um vendedor de frutas, acaba dormindo com um americano. A figura do americano também é extremamente caricatural, beirando o cômico. “has to build its polemic around a view of Americans that’s every bit as caricatured as our view of Russians during the same period.” ( Visionary Agitprop. Disponível em: Acesso: 18/09/2011)
No final do episódio, após ser flagrada pelo namorado, com outro homem em sua casa, a moça fica envergonhada e o americano sai andando pela favela e se surpreende e se comove com a verdadeira e, até então, desconhecida situação do país. “A ‘mensagem’ é evidente – a exploração dos seres humanos só é possível nesse ambiente de miséria, fruto das ‘contradições do capitalismo’, como se dizia então. O tom do filme é todo assim, grandiloqüente, épico, demonstrativo.” ( Soy Cuba, um filme esquecido da Guerra Fria. Disponível em: Acesso: 21/09/2011)

A segunda história retrata o trabalhador rural que, enganado pelo fazendeiro vê todo seu trabalho se resumir em dívidas e nunca pode usufruir da riqueza que produz. Quando o agricultor percebe que vai ter sua casa tomada e que nada pode fazer, pois firmou contrato com o explorador, toma consciência dessa realidade e questiona os filhos: “será que eles não vêem a riqueza que há aqui?” No entanto, a riqueza injustamente não lhe pertence e, por isso, num surto de fúria queima toda a plantação e a própria casa.

Na terceira historia, a Revolução começa a tomar corpo, o movimento estudantil é retratado e ressalta-se uma divergência entre os estudantes. De um lado, os mais radicais, buscando vingança pelas mortes dos camaradas. Do outro, os apassivadores, que insistem em deixar claro que a luta é contra o sistema e não contra os homens. O personagem Henrique, deixa de matar um policial que, mais tarde, acaba assassinando um dos líderes do movimento e seu amigo. O episódio se encerra com duas cenas grandiloqüentes: a marcha dos estudantes, de braços dados, cantando o hino nacional cubano e o velório de Henrique, morto pelo mesmo policial que havia deixado de matar. Fica claro que se busca despertar a emoção no espectador e o orgulho de defender a pátria com a própria vida.

Na quarta e última história, vemos o apogeu da Revolução e o pacato camponês que se separa de sua família para lutar na guerra. Mas uma vez, a tentativa de exaltação do nacionalismo e do orgulho de participar da construção de uma sociedade mais justa.
É marcante a preocupação estética que permeia o filme. Inúmeras cenas são de tirar o fôlego de tão belas. O responsável por isso foi o renomado Serguei Urushevski. ” …the film belongs mainly to its cinematographer, the extraordinary Sergei Urusevsky (1908-1974), but I have no way of confirming this impression. ( Visionary Agitprop. Disponível em: Acesso: 18/09/2011)

O filme não foi bem quisto pelos cubanos, que não se identificaram com o que foi retratado, só depois de muitos anos, a produção pode ser redescoberta e admirada, infelizmente, fora de seu contexto. A verdade é que aquilo que deveria ser um espelho para a sociedade cubana, foi feito por olhos estrangeiros, o que acabou por tornar a obra um tanto ingênua e supérflua, no que tange a imagem do povo. No entanto, não se pode negar a importância desse clássico para o Cinema cubano e mundial que, com seu tom épico e a grandiloqüência de suas imagens ainda encanta a muitos.

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