quinta-feira, 24 de junho de 2010

"O amor atrás das cinzas", por Larissa Cavalcanti



Argentina, década de 60. Carro-forte que transporta os pagamentos da cidade de San Fernando (ao todo 7 milhões de pesos) é assaltado por três rapazes que matam todos os policiais responsáveis pela segurança do veículo. Esse episódio realmente ocorreu e inspirou duas obras homônimas em diferentes meios: um livro e um filme. Plata Quemada (Argentina, Espanha e Uruguai, 2000), filme dirigido pelo experiente diretor e roteirista argentino Marcelo Piñeyro e baseado no livro de Ricardo Piglia, narra uma intensa história de amor entre um casal de homens.

É isso mesmo. O filme focaliza o relacionamento de dois dos bandidos responsáveis pelo crime, sendo o ato ilegal e suas conseqüências o pano de fundo da narrativa. El Nene (Leonardo Sbaraglia), “Sua pele era muito pálida. Parecia que ele ficara mais tempo preso do que na verdade estivera.”, e Angel (Eduardo Noriega), “Via sinais negativos e superstições que complicavam sua vida.”, eram conhecidos como “os gêmeos porque eram inseparáveis”. Os dois foram convidados pelo experiente bandido Fontana (Ricardo Bartis), “o homem invisível, o cérebro mágico”, a se juntar ao grupo que roubaria o carro-forte. Corvo (Pablo Echarri) foi escolhido para ser o motorista da operação, “o limite entre a vida e a morte. Entre fugir e cair na armadilha”.
Em crise, o casal protagonista aceita a proposta, acreditando que ao trabalharem juntos seriam de novo “os gêmeos”. Porém, Angel leva um tiro e acaba matando, com ajuda de Nene, os guardas que transportavam o dinheiro. O roubo mais as mortes causam uma fúria nas autoridades argentinas que começam uma busca incansável atrás dos culpados. Cientes do perigo, o quarteto viaja em direção ao Uruguai para se refugiarem e providenciar os documentos necessários para fugir de vez rumo ao Brasil. Porém, o esconderijo funciona como uma espécie de prisão,e o tempo lá passado se esgota, é “uma batalha perdida”. Essa espera acaba por elevar o nível de tensão entre eles, que buscam várias maneiras de extravasar, caminhando assim, para um final trágico.

O filme se divide em três partes mais o prólogo. Este se constrói basicamente por narrações em off que descrevem os personagens com informações aparentemente banais, mas reveladoras da personalidade de cada um, ajudando o espectador a entender as ações que estão por vim ao longo do filme. A primeira parte, “o fato”, narra literalmente o seu título: o que aconteceu, o roubo. Já a segunda, “as vozes” é a maior e mais angustiante do filme. O quarteto está trancafiado em um apartamento pequeno no Uruguai, sem poder sair. Os ânimos estão à flor da pele, até que eles não agüentam mais e finalmente saem do cubículo em busca de uma falsa liberdade, de extravasar o que, dentro daquele imóvel, era impossível de ser feito. Nesse verdadeiro segundo ato, as vozes do título não são mais as do narrador onisciente; elas são as do casal protagonista que revelam seus mais profundos sentimentos de angústia e ansiedade. Nene começa a procurar satisfazer sua libido com outras pessoas, mas suas experiências parecem vazias ao lembrar o seu amado. Já Angel, com o braço ainda ferido do tiro que levou durante o roubo, começa a escutar mais ainda as vozes e ficar cada vez mais confuso e perigoso para si mesmo. A relação deles durante o período de reclusão se torna um conjunto de desencontros onde os dois saem magoados e sem se compreenderem. A terceira e última parte, “plata quemada”, nos mostra a fuga desenfreada e o cerco que se fecha em torno dos ladrões. Nesse momento, os três (visto que Fontana, sempre agindo com a cabeça, foge com sua parte do dinheiro, temendo o que estava por vir) já não escutam mais vozes e não há fatos para mostrar; o trio é pura emoção. O medo e a certeza de que seus planos não dariam certo afundam os personagens num mundo onírico criado a partir da ligação forte que se constitui entre eles ao longo do filme. As drogas ajudam a enfrentar os guardas que batem e atiram lá fora, e, finalmente, com a adrenalina pulsando no corpo, o casal se reencontra e se reconhece. Voltam a ser “os gêmeos”.

Plata Queimada foi comparado por muitos a filmes como Cães de Aluguel (USA, 1992) e Pulp Fiction (EUA, 1994), ambos do famoso diretor Quentin Tarantino. Porém, Marcelo Piñeyro não realiza um filme que se assemelha tanto aos citados acima, pois, extrai de um violento contexto uma história de amor, tornando os amantes uma dupla de heróis trágicos. Além disso, Piñeyro não hesita em criticar Buenos Aires, onde “as pessoas circulam caladas, secas, olhando de lado para não morrerem”, como numa prisão. Apesar de o filme seguir certas convenções, a montagem vez por outra nos presenteia com paralelismos ousados de cenas como Angel se ajoelhando diante da imagem de Jesus e Nene se ajoelhando ao praticar sexo oral com um homem desconhecido. Assim como impressiona com certos enquadramentos bem elaborados e super-closes.

Diante de tudo que foi exposto acima, resta aconselhar que assistam a esse interessante exemplo do cinema argentino moderno, onde a plata do título é subvertida de sua função/significação inicial e funciona apenas como combustível da explosão.

2 comentários:

  1. Quería aclarar que para mí una película es un obra de arte. Lo que importa es la interpretación de los protagonistas así como el guión el trabajo del director y todo el equipo técnico. Entonces el tema de la película nos es lo más importante para mí me da igual o que vale es el trabajo de los actores que fue maravilloso.
    El mensaje para mi fue dubio al mismo tiempo que uno los odia al final llega a sentir pena porque deja claro la miseria del ser humano como persona. Ese cambio de sentimientos hacia el protagonista Leonardo Sbaraglia se dio por su interpretación que fue autentica y perfecta.
    El Nene ,o mejor dicho el Brignone, de Ricardo Piglia no es en exacto el mismo que se ve en la gran pantalla con Leonardo Sbaraglia. Según el texto del escritor argentino el protagonista más complejo es en realidad el Angel de Eduardo Noriega que ha sido bien preparado por el actor español. Pero Sbaraglia hizo un Nene con demasiada profundidad de sentimientos y acciones que roba la escena del todo. Él es visceral y apasionante, una interpretación que va más allá del original de la crónica roja y del romance

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  2. Também acho que a interpretação importante... realmente Leonardo Sbaraglia (e todo o resto) fez um ótimo trabalho. Esse trabalho em equipe, feita por técnicos, diretores e atores é claramente importantíssimo, além da história que o filme quer contar, que não deixa de fazer parte desse trabalho coletivo. Quanto ao livro original, não li e não posso comentar muita coisa, só que adaptações não precisam ser literais, depende da proposta. No mais, não sei se meu comentário fará muito sentido, visto que não sei espanhol e minha interpretação do comentário acima foi livre :P

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