sexta-feira, 25 de junho de 2010

"Maria Candelária", por Luizy Silva

Gabriel Figueroa e Dolores Del Rio nas filmagens de Maria Candelária




Maria Candelaria (Emilio Fernandez, 1944) integra o pacote de clássicos do cinema mexicano. Ele faz parte de uma tentativa de reconstrução do imaginário coletivo, surgido na década de 30, com a ação de alguns cineastas que tentavam recriar a imagem do México, pós-revolução. Emílio “Índio” Fernandez e outros cineastas, como Fernando De Fuentes, uniram-se à ideia de um cinema ‘nacionalista’, que reafirmasse a identidade do povo mexicano, introduzindo elementos da sua cultura e da sua religiosidade na tela. Foi uma tentativa de desconstrução de estereótipos, tão firmemente reforçado pela indústria cultural norte-americana. O povo do México era ‘pintado’ de preguiçoso, bêbado e bandido e o trabalho desses cineastas, em especial, o de Fernandez, foi responsável por (re) colocar a figura do Índio no imaginário coletivo dentro e fora do México, ultrapassando as fronteiras da América Latina.

O filme se passa em Xochimilco, uma aldeia mexicana que vive, basicamente, do cultivo de flores e legumes. Maria Candelaria (Dolores Del Rio) e Lourenço Rafael (Pedro Armendáriz) rostos conhecidos do StarSystem da época, fazem o casal de protagonistas. O padre, Lupe (inimiga de Maria e apaixonada por Lourenço), o Sr. Damian, (comerciante), o pintor e a vila integram os personagens desse melodrama. A história de Maria Candelaria é contada em flashback e em terceira pessoa, pelo pintor, que se apaixona por sua beleza numa feira. Candelaria vive com o estigma de que sua mãe fora prostituta e morreu apedrejada naquela vila. Tudo lhe é negado. As pessoas não falam com ela e ela só tem Lourenço Rafael.

Mesmo o México sendo um Estado laico, a figura da Igreja tem presença forte na narrativa. Seja pelo padre que sempre a protege, seja pelo paralelo entre ela e a Virgem de Guadalupe mostrado ao longo de todo o filme, mas em destaque numa cena quase no início, onde acontece uma fusão das imagens delas.

Para fortalecer a ideia de um cinema nacionalista, Fernandez, além das imagens, utiliza-se do discurso. Na cena em que o pintor é entrevistado por uma jornalista que quer escrever a sua biografia, ela pergunta sobre que temas ele gosta de pintar. Ele responde que não pinta temas, pinta o que vê, pinta o México. Numa forte alusão à Mexicanidade.

Maria Candelaria foi mais uma parceria de sucesso entre Emilio Fernandez e Gabriel Figueiroa (diretor de fotografia). Juntos, conseguiram produzir filmes visualmente extraordinários e interessantes, desvendando um México até então pouco visto nas telas e, com isso, conquistaram reconhecimento internacional e popularidade no próprio país.

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