sábado, 5 de dezembro de 2009

"As luvas mágicas" por Paula Riff


Assim como outros filmes do cinema latino americano, “As Luvas Mágicas” também tem como tema central o cotidiano das pessoas. O que o diferencia dos demais filmes é a fuga nonsense que os personagens se utilizam para escapar do monótono e do previsível. Sendo assim, ao invés de utilizar-se de um enredo monótono e lento, de personagens densos e do anticlímax, esse filme opta por uma abordagem cômica e absurda, exatamente para servir de contraste a esse cotidiano simples e “normal” que estamos acostumados a ver. É através das relações esdrúxulas entre os seis personagens principais que a história se desenvolve e constrói situações tão ridículas que extrapolam o habitual e compõem cenas quase surreais.

Alejandro é um homem de meia idade que não tem família construída e que permanece em um subemprego. A sua rotina está aparentemente normal até que sua noiva, Valeria, resolve romper o relacionamento sem muitos motivos e concomitantemente surge uma relação repentina entre ele e Sérgio que, de apenas mais um dos seus vários clientes, se transforma em seu amigo, sócio e conselheiro amoroso.

Ao longo do filme notamos que o único personagem completamente acomodado e aparentemente satisfeito com sua rotina é Alejandro. Sendo assim, de todas as mudanças que acontecem a ele, nenhuma delas, tem iniciativa sua. Ele é, a todo o momento, forçado ou influenciado pelos outros personagens a mudar e consequentemente a fugir do que lhe é habitual. Desta forma, tanto o fim como o início dos seus dois relacionamentos não dependeram de uma ação sua, assim como a idéia de investir em um negocio e prosperar economicamente na foi sugerida por ele. Alejandro parece ser incapaz de agir sozinho, talvez por estar genuinamente feliz com seu cotidiano ou apenas por não ter nenhuma ambição, a realidade é que Alejandro é um personagem completamente dependente, e se a história fosse apenas sobre ele, o filme não teria ação alguma. Talvez seja por isso que o filme seja tão repleto de personagens e todos parecem ter relevância até maior do que Alejandro de quem, aparentemente, é o papel principal.

Cada personagem tem uma loucura a parte que expõe um pouco da urgência interior que todos tem em negar e fugir da mesmice do dia-a-dia. A mania de Sérgio em gravar músicas de heavy metal, o vício que Valeria adquire pela mistura de remédios e uísque e a obsessão de Susana em se intrometer na vida dos outros por não ter nada de excitante na sua própria vida são exemplos que ajudam o filme ao dar esse formato grotesco e completamente diverso dos demais.

O final é feliz para quase todos os personagens com exceção de Alejandro. Embora tenha, assim como todos os outros personagens, conseguido mudar sua vida, Alejandro não está satisfeito, quer voltar a sua normalidade, a ter o seu carro velho. Resta saber se ele vai tentar voltar ao seu status quo ou vai se conformar novamente e esperar que os outros tomem atitudes por ele.

“As Luvas Mágicas” é um filme que cumpre o que seu enredo propõe. Vai além dos filmes habituais e quebra com um tipo de cinema latino americano que já estava começando a virar rotina. Afinal, tudo que é demasiadamente repetido cansa, até mesmo o cinema.

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