sábado, 5 de dezembro de 2009

"Pipoca para Pensar" por Nilson Braga de Almeida


O entretenimento no cinema é visto como algo sem valor para alguns especialistas. Talvez, apenas eles conheçam os reais motivos para isso. Porém, não precisa ser expert no assunto para identificar características que ajudem a confirmar tal afirmação. Olhando, por exemplo, para as diversas comédias românticas (O Amor Não Tira Férias, Se Eu Fosse Você 2) e filmes adolescentes (as intermináveis sequências de American Pie) que todo ano são lançados, dá pra facilmente perceber indícios do porquê da existência dessa linha de pensamento.

Piadas sem nenhuma graça e, por vezes, grosseiras. Situações forçadas que beiram o ridículo. Total previsibilidade. Estes são apenas alguns dos muitos erros que acometem a grande maioria desses filmes. Feitos exclusivamente para obterem êxito financeiro, usam fórmulas já conhecidas, sem nenhuma inovação.

Mas, ainda bem que algumas películas quebram essa regra e conseguem divertir com qualidade, contrariando a visão generalista dos já citados entendidos da matéria. No cenário latino-americano, que não é tão diferente no sentido comercial da coisa, obras como Lisbela e o Prisioneiro e O Filho da Noiva mostram que o sucesso econômico não é sinônimo de pobreza artística.

Neste último vemos, de um lado, um típico melodrama: a mãe de Rafael tem Mal de Alzheimer e o seu pai pede ajuda para realizar um antigo sonho. Do outro, um romance: a namorada dele se sente só, insatisfeita com a falta de presença do companheiro. Nesse meio, ainda há um relacionamento distante com a filha pequena e a chegada de um antigo amigo, pra lá de abusado. De quebra: situações cômicas a todo instante.

Só de pensar nesta mistura de gêneros, dá pra imaginar que não é nada fácil fazer a composição destas cenas e encaixá-las numa relação de coerência que agregue, ao mesmo tempo, dinamismo e simplicidade. Além de conseguir isso, a produção argentina faz com que o espectador e o protagonista se dividam entre a paixão, o compromisso, a família, a responsabilidade, tudo mostrado numa rápida passagem de tempo onde quase nada do que realmente importa na vida é aproveitado, como ocorre no mundo contemporâneo.

É isso o que permeia o homem moderno: o corre-corre comum dos dias agitados, numa constante aceleração, onde não se pode parar, nem pra pensar, nem pra perceber que ao redor existem coisas de grande valor, pessoas e momentos que não voltam jamais. Pena que só mais tarde vem o desapego ao que não interessa. Pena que depois já não dê mais pra fazer muita coisa.

Com certeza, a originalidade não é o trunfo desta obra de Juan José Campanella. Embora repleto de ingredientes exaustivamente testados, o filme serve para provar que o cinema pode, mesmo utilizando os mesmos temas, os mesmos enredos, se tornar interessante quando se usa a criatividade, encontrando soluções inesperadas para situações banais e explorando sabiamente os momentos-chave da trama. Ao assisti-lo, o público sai da sala de projeção com um gostinho de satisfação, com uma sensação de que o cinema pode fazer rir e chorar, além de pensar.

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