sábado, 29 de maio de 2010
"O sorriso de uma vida" por Thiago Rocha
Sempre soou estranho quando se via nos filmes do italiano Bernardo Bertolucci os personagens falando em inglês, independente das questões geográficas. Entendia por um lado a vontade de dar um alcance internacional ao filme, mas por outro, não engolia a clara contradição de filmar em ambientes, lugares onde só as pessoas mais ricas poderiam falar inglês, e olhe lá. De qualquer forma, eram produções internacionais e tinham que atender a especificações do mercado. É o caso também dessa co-produção argentina e inglesa O Sorriso De Uma Vida (Eversmile, New Jersey, 1988), de Carlos Sorín.
A maior contradição no caso desse filme se dá por conta de que todos personagens falam inglês (homens, mulheres, crianças, bandidos), quer dizer, tem um quê de internacionalidade numa região, a patagônia argentina, que é mais tratado por suas idiossincrasias, seus costumes particulares, quer dizer, seu confinamento. Mal comparando, poderíamos chamar a patagônia de “sertão argentino”. Pelo menos no que se refere ao quesito paisagem. Na questão de como ela entra na narrativa dos filmes, é bem diferente. Geralmente a patagônia é mais explorada por seu isolamento, sua solidão. É mais uma paisagem emocional, onde os personagens entram na trama influenciados por esse espaço, por essa atmosfera especial, longínqua. Já o sertão é uma paisagem social, na qual se valoriza temas como a miséria e a fome. Os personagens servem mais a uma alegoria do que quer se representar como a desgraça nacional. Claro que há exceções. A patagônia já foi local de guerra, como em A Patagônia Rebelde (Hector Oliveira, 1974), assim como o sertão também já foi explorado de forma mais parecida com o cinema argentino com o mais recente caso de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (Marcelo Gomes e Karin Ainouz, 2009).
Fora isso, o filme trata-se de um gênero bem caro ao cinema latino americano: o road movie. E como tal, ele não foge de certos aspectos inerentes à construção desse gênero, como paisagens naturais e humanas, movimento pela estrada, busca por autoconhecimento, encontros com vários personagens. Mas curiosamente, talvez por se tratar de cenários parecidos, Sorín filma seus temas e personagens de forma semelhante a outro gênero: o western. Digo isso porque encontro muitas semelhanças, como por exemplo, os planos abertos mostrando a paisagem do local, onde aparece bem enfatizado o céu todo azul e as planícies arenosas e inférteis; os enquadramentos de Fergus O’Conell (Daniel Day-Lewis), um dentista representante de uma espécie de ONG dentária, que viaja pela América Latina para fazer tratamentos gratuitos para a população, são quase sempre em contra-plongée, como que engrandecendo a figura desse civilizador de um mundo cruel e ignorante tal qual um herói do Velho Oeste.
Sorín realizou esse filme depois de um importante prêmio no Festival de Veneza. Foi um fracasso comercial. Só depois de catorze anos o diretor realizaria outro filme, num esquema de produção bem mais simples, diferente deste. O Sorriso De Uma Vida é um filme estranho, resultado talvez de uma vontade de produção internacional que se demonstrou frustrada.
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Olá Pancho,
ResponderExcluirprocurando na internet sobre esse filme, encontrei este seu comentário.
Tenho muito interesse de assistir esse filme, apesar das críticas que recaem sobre ele...
Gosto muito do Daniel, e venho tentando conhecer todos os filmes em que atuou...
Caso conheça algum local, seguro, onde possa baixar o filme, por favor me avise.
Um abraço & parabéns pelo Blog \0/
Rosanna,
ResponderExcluirO filme foi lançado em DVD. O Pancho é resultado de uma disciplina de Cinema Latino-americano na UFPE.
abraço