sábado, 29 de maio de 2010
"Tudo bem" por Lucas Caminha
Vencedor dos troféus Candango de melhor filme e melhor ator coadjuvante (Paulo César Peréio) no Festival de Brasília de 1978, Tudo bem, nos mostra a vida de uma família da classe média carioca, que resolve reformar seu apartamento em Copacabana e fica "cercada de Brasil por todos os lados", como definiu o diretor Arnaldo Jabor. Tudo bem traz, já no título, uma ironia aos tempos vividos.
A trama se desenvolve no espaço fechado de um apartamento em Copacabana. As personagens dividem-se em grupos: grupo 1, a família; grupo 2, as empregadas domésticas; grupo 3, os operários da construção civil.
A família é formada por: Juarez, o marido, funcionário público aposentado do IBGE e ex-militante integralista. Seu personagem traja, durante quase todo o filme, hobby e chinelos como se da vida nada mais esperasse. Seu lugar dentro da casa é o escritório ou a biblioteca. Lá se encontram suas lembranças do passado, a memória nacional simbolizada por cânticos indígenas e aves empalhadas da fauna brasileira. Elvira, sua esposa, é a típica mulher do mundo privado, sua preocupação fundamental é com a vida conjugal. Não dando crédito à impotência sexual do marido, apela para todo tipo de misticismo para afastar da vida dele a outra, a amante imaginária. É essa desconhecida que no subgrupo ocupa o lugar da mulher desejada em oposição à esposa santa e guardiã da moral. São dois os filhos do casal. A filha segue o exemplo da mãe, sua preocupação fundamental é arranjar um casamento. O filho, ao contrário do pai, trabalha numa empresa norte-americana. O grupo das domésticas é formado pela serviçal devota, vinda do norte, que no decorrer da trama torna-se milagreira, e na prostituta sem fé. E finalmente o terceiro grupo: os operários da construção civil.
O filme é bastante perspicaz pelas inúmeras referências que podem levar à reflexão. Basta dizer que um dos operários traz para dentro da casa, durante a obra, toda a sua paupérrima família, recém-chegada do Piauí; Paulo César Peréio surge como noivo da filha do casal e empresário, que tenta vender os benefícios do satélite para a vida das pessoas; dois operários se engalfinham por uma banana, provocando um excêntrico assassinato cuja arma é uma marreta; uma madame tenta furar fila no ritual espiritual da empregada. O mérito de Tudo Bem se dá pela riqueza de temas sugeridos, pela plasticidade alegórica (o filme é teatral, carnavalesco), pela comicidade bem dosada e criatividade do roteiro. A metáfora do filme desvenda um Brasil com diferenças sociais bem distintas, com ricos fazendo falcatruas para resolverem seus problemas. Mistura sincretismo religioso, loucura, traição, volatilidade do amor.
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