terça-feira, 29 de setembro de 2009

"A mulher de todos" por Germana Glasner


“A Mulher de Todos” de Rogério Sganzerla é protagonizado pela atriz Helena Ignez, que tinha papel secundário em “O Bandido da Luz Vermelha” – realizado anteriormente pelo mesmo diretor. Agora encenando a fatal Ângela Carne e Osso, que logo no começo do filme já é apresentada pelos locutores como “uma das dez mais megalomaníacas”.
A questão da identidade e da identificação dos personagens é uma das temáticas mais recorrentes. Ângela se autodefine, durante todo o filme, com afirmações do tipo: “Me chamam de louca, histérica, sei lá o quê, mas sou uma mulher normal”, “Sou Ângela Carne e Osso, a ultra-poderosa inimiga número um dos homens”, “Sou livre”, “Sou uma heroína sem mensagem como qualquer outra mulher do meu tempo”, etc. Os demais personagens também utilizam desse artifício para se afirmarem.

O filme apresenta uma temporalidade não definida, através de uma elasticidade encontrada nos diálogos que esticam o tempo para o passado e o futuro. Outra forma em que se manifesta essa elasticidade é a repetição de planos e situações. A exemplo o casal que faz piquenique na praia, e aparece sempre sob a mesma iluminação, com as mesmas roupas em vários momentos do filme como se estivessem em um tempo a parte da história principal.

Apesar do amor de Ângela ter como alicerce seu marido, por outro lado ela coleciona amantes, de “bacanas” a “boçais”, sempre tomando a iniciativa nos seus relacionamentos. De todos os homens em que investe o único que ela não consegue se tornar amante é o, suposto, toureiro, que curiosamente é encenado por Paulo Vilaça, protagonista de “O Bandido da Luz Vermelha”.

Através de imagens inesperadas, que despertam surpresa e curiosidade, Ângela demonstra que possui um sentimento oceânico em um mundo sem limites “hoje eu sei, eu preciso de todos os homens, sem deixar de amar nenhum”. Mas coloca em contradição esse amor quando esnoba e maltrata os seus amantes. Ser amado por ela implica ser, também, rejeitado e desprezado.

A protagonista acaba sendo eliminada pelo seu marido, que diz: “Eu não calculo nunca, mas quando faço uma besteira, eu vou até o fim”. Essa frase afirma que, no fundo, único valor real, trazido pelo filme, é o radicalismo, qualquer coisa pode ser feita... desde que se vá até o fim.

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