domingo, 18 de abril de 2010

"Alejandro Jodorowsky" por Thiago Rocha





O tipo de produção cinematográfica do chileno radicado no México Alejandro Jodorowsky chama a atenção pela singularidade de seus temas e projetos inusitados. E é interessante observar o quanto ele registra o seu tempo apoiando-se numa tradição e deixa herdeiros dentro do cinema mexicano.

A tradição na qual se ancorou o cinema de Jodorowsky foi o cinema surrealista que Luís Buñuel realizou no México. Muito embora haja semelhanças tanto na trajetória como no cinema, é preciso ressaltar as diferenças entre essas duas cinematografias. Jodorowsky irá retomar calor vanguardista do final dos anos 1920 e começo dos anos 1930 dos filmes O Cão Andaluz e A Idade do Ouro. Já os filmes de Buñuel no México não estariam dentro da tradição surrealista que ele próprio afirmou com Salvador Dalí. Muito tolhido pelas produtoras, Buñuel se vê limitado a desenvolver sua verve mais contestadora. Daí passara a fazê-lo de forma mais contida e sorrateira. Vai filiar-se a tradição realista do cinema latino sem deixar de lado seu estilo surrealista, que vai se impregnar nos meandros das historias e no comportamento dos seus personagens. Poderíamos dizer que um cineasta como Pedro Almodóvar, por exemplo, estaria mais próximo desse surrealismo em seus primeiros filmes do que Jodorowsky. Quando Jodorowsky retoma esse surrealismo mexicano ele trás um artifício mais delirante e mais teatral. Alguns de seus filmes como o primeiro longa metragem Fando e Lis (1967) e A Montanha Sagrada (1973) foram baseados em peças teatrais.

Jodorowsky era mais homem dialogava com seu tempo. O teatro no cinema também se encontra em outras cinematografias latinas como a de Glauber Rocha. À seu modo, trata de temas como o da incomunicabilidade em Fando e Lis quando esse tema estava em voga com Antonioni, por exemplo. Ou mostra as engrenagens do fazer cinematográfico em A Montanha Sagrada como aparece em outros filmes do mesmo período como One Plus One de Godard, O Anjo Nasceu de Julio Bressane ou até Fellini 8 ½. O problema é que quando ele usa desses artifícios, não o faz com a intenção de problematizar o cinema mais do que o teatro. Não se mostra eficiente na tela e soa datado.

Mas se por um lado o cinema de Jodorowsky estaria ultrapassado por motivos estilísticos, o tipo de produção não é e foi importante. Deixou marcas no cinema mexicano da época e em trabalhos mais atuais. Colaborador de Fando e Lis e El Topo, Juan Lopez Moctezuma vai filmar Alucarda – La Hija de las Tinieblas em 1972. Trata-se de um filme de terror, um pouco diferente do estilo de jodorowsky, mas é emblemático pelo fato de fugir também do caminho realista tradicional de produção latino americana, semelhante ao que José Mojica Marins já fazia no Brasil. Outro traço da herança dessa grande produção pode-se encontrar num filme mais recente como O Labirinto do Fauno de 2006 de outro mexicano o Guillermo Del Toro. São grandes produções de capital internacional que se vale de uma conjuntura política para criar alegorias e mundos fantásticos sem necessariamente ter a America latina como pretexto. Não se trata do cinema político da tradição de Glauber Rocha ou Fernando Birri. Del toro, por exemplo, desloca seus personagens do contexto mexicano e vai filmar sobre a guerra civil espanhola. Jodorowsky vai filmar o velho oeste, fará filmes em inglês. A crítica à situação nacional existe, mas é mais pontual do que decisiva na narrativa.

O legado maior de Alejandro Jodorowsky não é tanto a de tradição autoral, e sim de uma política mais globalizada para o cinema mexicano, e por que não latino americano. Ele deixou marcas para outro cinema latino possível e sem apegos ao realismo cinematográfico. E isso é fundamental.

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