domingo, 18 de abril de 2010

“Maria Candelaria”, por Paulo de Sá


Ao começar sua carreira nos anos vinte como figurante de westerns em Hollywood, Emilio ‘El Indio’ Fernandez trouxe, alguns aspectos da cinematografia norte-americana para o cinema latino-americano, e mais especificamente para o seu próprio país, o México. Há, porém, vários elementos que retratam sua nacionalidade, sendo facilmente identificáveis dentro de sua filmografia. São estes mesmos elementos as grandes marcas de Fernandez e que o fizeram se tornar reconhecido no meio cinematográfico.
Maria Candelaria, obra que retrata pequena parte da vida de uma índia a qual vive em uma pequena aldeia no México, se encontra perfeitamente no quadro anteriormente descrito. Filha de prostituta assassinada pela comunidade local, justamente pelo julgamento do modo com o qual “ganhava a vida”, Maria Candelaria, interpretada por Dolores Del Rio, sofreu durante toda sua vida com a humilhação a qual era imposta, tal como os preconceitos por causa de sua falecida mãe e também com a marginalização que ela era obrigada a se submeter, vivendo sempre longe do centro de sua aldeia.
Lançada em 1943, esta obra apresenta vários aspectos que aos poucos se concretizaram na cultura audiovisual mexicana, sendo ‘El Indio’ um dos responsáveis por tal acontecimento. A presença precursora de elementos novelísticos, por exemplo, como o exagero narrativo em cada ato da pobre Maria Candelaria, assim como do sofrimento vivido por Lorenzo Rafael, seu amado, interpretado por Pedro Armendariz, formaram uma verdadeira base para a produção que existe hoje de novelas mexicanas, as quais exploram de forma melodramática temas como o preconceito, o sofrimento e o amor. A presença de personagens que se eternizaram no audiovisual melodramático também é de suma importância; exemplos são os próprios mocinho e mocinha, o vilão, entre outros. Vale ressaltar que é possível estabelecermos conexões com o período da Vera Cruz no Brasil, a qual também trilhou caminhos explorados pelo cinema mexicano, o qual havia se concretizado um pouco antes.
Desejando impor um tom artístico ao seu filme, Emilio Fernandez trabalhou com Gabriel Figueroa, fotógrafo internacionalmente reconhecido e concorrido no mercado de trabalho entre os grandes cineastas. Figueroa, com sua brilhante fotografia em preto e branco nesta obra, soube fazer o que poucos na América Latina daqueles tempos conseguiriam. Com o contraste genial de luzes e sombras, e o uso da luminosidade das chamas de fogo (cena em que os aldeões correm para expulsar Maria Candelaria da aldeia, por exemplo), Figueroa conseguiu, inclusive, dar ótimo suporte não só para a estética do filme, mas como também para sua narrativa.
Há, porém, aspectos presentes no filme importados da produção hollywoodiana. Para exemplificar, a trilha sonora se assemelha bastante com os dramas da época produzidos nos Estados Unidos, sendo este um dos aspectos que não demonstram aspectos nacionais e sim remetem a elementos já concretizados na produção cinematográfica norte-americana.
Uma das grandes obras de Emilio ‘El Indio’ Fernandez, Maria Candelaria teve sua participação e incrível importância para mostrar as bases de toda uma cultura audiovisual e, em parte, cinematográfica que estava por vir no México, sendo portanto de relevância inquestionável para a cinematografia não apenas do país, mas de toda a América Latina.

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