domingo, 18 de abril de 2010

"Crónica de um Niño Solo" por Amanda Xavier Beça



Leonardo Favio estreou sua carreira no cinema argentino com o Crónica de un Niño Solo, e, dedicado a Leopoldo Torre Nilson – outro reconhecido diretor argentino e que instruiu Favio no começo de sua carreira – o filme ganhou o Cóndor de Plata de Melhor Filme do ano de 1966, que é o prêmio da “Asociación de Cronistas Cinematográficos de la Argentina” (ACCA) e o mais bem concedido que qualquer diretor conseguirá na Argentina. Não só apenas este, o filme ganhou o prêmio FIPRESCI no Festival Internacional de Cine de Mar del Plata, também um festival argentino.

O filme nos conta a vida de Polín, interpretado por Diego Puente, um menino de onze anos abandonado pela família e deixado aos cuidados de um orfanato só para garotos, extremamente rígido e que supostamente deveria trazer uma vida melhor às crianças que sustenta. Não suportando ficar ali, Polín sempre pensa em planos de fuga, até que um dia ele efetivamente consegue fugir. A trama, então, é dividida em dois momentos antagônicos: o orfanato (que representa a prisão do espírito de Polín) e a fuga (que representa a liberdade do garoto).

O mundo é cruel para estes meninos, e eles acabam por não viverem devidamente a infância e a pré-adolescência que todos têm direito, ainda que não tenham consciência disso. Enquanto “preso”, Polín e seus colegas tentam exercer suas vontades às escondidas: eles fumam, eles causam intriga, eles cochicham as suas vontades e suas vidas anteriores ao orfanato. E o desejo de escapar dali é muito forte. Durante quase todas as cenas, quando não contam o cotidiano dos meninos e focam em suas vidas, ouve-se falar em planos de Polín para fugir, e até tentativas, como na enfermaria.

Apesar do nome do filme indicar uma possível história da solidão e abandono de um menino, Leonardo Favio não enfoca nisso, apesar desta questão estar presente sempre, ele dá atenção à como Polín se sobressai às durezas que a vida o traz. Nem ele e nenhum outro menino do orfanato são tristes. Eles não têm consciência da tragédia que estão vivendo.

Acontece que o pequeno protagonista é categorizado pelos seus “responsáveis” como um menino-problema, uma má influência para os outros garotos. O que é um pouco verdade, visto que é ele quem inicia as provocações para brigar com outro, é ele quem arranja as sedas para fumar tabaco e pensa os planos de fuga; ele até mesmo já havia fugido antes. Polín certamente causa agitação entre os meninos, e por causa disso é colocado isolado de todos, e daí consegue o que queria: fugir.

Na outra parte do filme, vemos que, mesmo conseguindo seu tão sonhado objetivo, os problemas da vida não param de encontrá-lo. Ao chegar onde morava antes do orfanato – num provável bairro pobre da cidade, que, por acaso, não é especificada – Polín já tem que se deparar com a morte de um conhecido e enfrentar os antigos rivais pessoais que competem o domínio do rio com ele. É aí onde o filme mostra que é realista: em qualquer canto que este menino for, ele sempre encontrará desgraças, porque é por estar preso à baixa camada da sociedade que ele está mais vulnerável a enfrentar coisas ruins e lidar com as durezas que crianças como ele não deveriam conhecer. De modo que, o caráter de menino-problema de Polín, o fato de ter furtado o velhinho do ônibus, e começar a fumar tão cedo, vem de um determinismo social, e não de um determinismo biológico. Estas são as maneiras que ele encontra pra se sobressair, pois o pequeno protagonista não escapa de seu destino.

Segundo conta o próprio Leonardo Favio em entrevista para Roberto Quirno: “em toda obra havia algo de autobiográfico. Em cada película os personagens vão responder como eu responderia nessas circunstâncias. Eu filmo apenas aquilo que conheço muito. E Crônica não escapa disso” (1) . Assim, fica claro que, como o personagem, o diretor também conheceu os orfanatos, e, segundo o próprio, sua intenção com a história do filme era mostrar o falido sistema educacional do governo argentino dos anos 60, em contradição com o regime de Perón. Crónica de um Niño Solo conta a história de um indivíduo, de uma vida. Ao assistir ao filme, o espectador fixa seu pensamento no menino Polín e ao mesmo tempo assiste uma critica a um sistema de governo ao jogar o personagem numa dura e difícil realidade.

1. http://www.youtube.com/watch?v=_ly2G_JdEvc /Youtube. Ralph Steiner Mechanical Principles 1930 User: rarodvdblogspot

Nenhum comentário:

Postar um comentário