sábado, 30 de abril de 2011

"La hora de los hornos", por Natalie Chauviere




A América Latina tem uma forte tradição em produção de documentários. Nos anos 60, apareceram Fernando Birri (1) e a “Escuela de Documental de Santa Fe” na Argentina. Era um estilo de documentário comprometido politicamente, crítico e obstinado com as denúncias sociais, como o filme “La Hora de los Hornos”, feito em 3 partes, com uma duração total de mais de 4 horas, de Fernando Solanas (2) com a produção CINESUR S.A (Buenos Aires). Quando « La hora de los hornos” saiu nas salas de Buenos Aires, a fines de 1973, os anúncios periodistas falavam da “pelicula argentina mais premiada e vista no mundo”. Consagrado primeiro na “IV Muestra Internacional del nuevo Cine de Pésaro” (Italia) em Junho de 1968. Em 1973, só se mostro a primeira parte do documental, “Neocolonialismo e violência”, a mais conhecida e com uma estrutura formal para o circuito comercial. A partir disso, foi em diversos festivais internacionais, e alcanço uma significativa difusão clandestina ou semi-clandestina a partir da segunda metade de 1968 na Argentina. Em 1973, depois de 6 anos de ditadura militar e de 18 anos de proscrição eleitoral do movimento político maioritário, o peronismo, chegou no circuito de salas com a categoria de filme de “interesse especial”.

O filme expõe uma tese sobre o miserável da condição humana. Como muitos filmes Latino-Americanos, Fernando Solanas faz refletir sobre a situação de toda América Latina através desse documentário. De certa forma, surpreende as pessoas com perguntas, abrindo um espaço para o debate frente às câmeras. Essa produção intensa na América Latina, no período 60 e 70 (década tomadas pela ditadura), não permitiu a difusão da cultura documental, devido à marginalização dos temas tratados pelos realizadores, assim a circulação desses filmes se restringia a sindicatos, centros académicos universitários e cineclubes. Contudo, nas salas de cinema, eram apenas exibidos os documentais oficiais, os filmes curtos que passavam antes dos largos metragem, como o “cine-noticiario” o “cine-variedade”, etc. … Mas essas produções “oficiais” não fizeram história, eram só um intento de propaganda ideológica dos governos militares. Ao contrário, o documentário comprometido e genuíno se volta para um modelo alternativo de produção cinematográfica na América Latina, apesar das grandes dificuldades que enfrentou e segue enfrentando.


O documentário “La hora de los hornos” (1968, estreado em 1973) foi realizado por o “Grupo Liberacion”, o qual Fernando Solana integrava nessa época. As obras do Cine Liberación apontavam o colonialismo, o subdesenvolvimento e a ausência de um projeto nacional e democrático como obstáculos às transformações das sociedades latino-americanas. O documentário usa material filmado no momento de sua realização e trechos de outros documentários latino-americanos. Esse documentário foi pensado como uma ferramenta para o trabalho político, para convidar a discussão e a reflexão coletivas, como uma forma de lutar. Nele se mostra a história do colonialismo Argentino, e no mesmo tempo, de toda América Latina, através de um olhar que retrata a violência quotidiana e sistemática, refletida nos testemunhos e imagens dos trabalhadores urbanos e rurais contrastados com a vaidosa e excêntrica oligarquia argentina. Dessa forma, Fernando Solanas vai orientando a vista para necessidade de organização, a necessidade de luta. O filme também foi inspirado no livro Os condenados da Terra, do médico martinicano Frantz Fanon, um dos principais autores que registraram e discutiram as lutas de libertação nacional do período. “Todo espectador é um covarde ou um traidor” é uma frase de Fanon que aparece na introdução de La hora de los hornos e se tornou emblemática.

A parte “Neocolonialismo e violencia” critica totalmente a política e a sociedade argentina dos anos 60. Nessa primeira parte, o filme procura mostrar que a dependência vivida naquele momento pela Argentina era conseqüência da dependência colonial passada e tenta desvendar os mecanismos de dominação adotados pelo neocolonialismo da época. Como Fernando Solanas consegue fazer que o publico fique sensível à sua crítica? A primeira parte, “Neocolonialismo e violência” nos fala da historia da dependência da Argentina, analisando as formas e métodos desse processo. Fernando Solanas utiliza, no inicio, frases ou palavras repercutais como “poder”. Também se serve das imagens para dar emoções nos espectadores; como por exemplo, quando as crianças correm detrás do trem, os trabalhadores na fábrica, ou os rostos dos povos pobres e os indígenas, mostrando rostos tristes, doentes…ou também podemos ouvir pessoas falando no fundo como uma senhora trabalhando na fábrica dizendo que se prostituía dentro da fábrica quando estava trabalhando para ganhar mais dinheiro. São passagens chocantes, imagens que não nos deixam indiferentes. E justamente contrastam com o que acontece com a oligarquia, que vai para festas, que só pensa a fazer como os Estados Unidos, até alguns que falam que gostariam mais viver nos Estados Unidos, são os que exploram os trabalhadores ou os agricultores, são chamados “terratenientes”. Também para que o filme seja visto como real e não como ficção utiliza estatísticas, imagens documentais, entrevistas, e fragmentos de curtos; usa imagens chocantes como os animais da rua, mostra a violência dentro do matadouro com as vacas e os carneiros que seria como uma metáfora da violência humana, de certo modo os que matam são os “terratenientes” e os oligárquicos que pouco à pouco mataram os indígenas (que foram exterminados) ou os obreiros e os agricultores (matando pouco à pouco de fome, de doença, deixando eles se nenhum recurso para sobreviver, se preocupar-se de suas condições, e sem pagar o suficiente para um trabalho alienando, cansativo…É interessante também ver o filme como um resumo da história da Argentina. Mostrando que a evolução do país consistiu também numa grande divisão e separação entre a sociedade, entre os oligárquicos e os pobres, entre as províncias e Buenos Aires…


No final da primeira parte, temos durante os últimos 4 minutos a imagem da cara do Che Guevara, do Che Guevara morto, como uma representação do sacrifício do Cristo. Essa imagem está só na versão original e não naquela de 1973, na qual essa parte foi modificada. Mas aqui estou falando da versão original de 1968. Essa figura tem um símbolo muito forte. A figura do Che havia funcionado na Argentina durante os anos 70, já que era associada com a Revolução Cubana. A figura do Che representa uma sorte de horizonte unificador no político para diversas facções intelectuais da esquerda. De certa forma o Che Guevara é visto como um homem que representa a “nossa” América Latina. Então, em 1968, essa imagem ainda funcionava como símbolo unificado para diversos sectores, no clima de oposição frentista da ditadura do general Ongania (3). Até Peron caracterizava-lhe como o emblema da revolução na América Latina (4). Assim, nessa versão original, a imagem do Che Guevara funciona como uma proposta do “Cine Liberacion” como opção, articulando a primeira parte do filme, destinada a denunciar a situação de dependência nacional e regional. Podemos interpretar essa imagem final, no clima dos anos 1968, como uma expressão mais das lutas do Terceiro Mundo já que o Che Gueva, “guerrillero heróico” da foto de Korda, resultava propicio para promover a continuidade da revolução apesar da morte do Che, como para influenciar a continuar com a revolução.

Contudo, podemos ver que esse documentário também manipula. Primeiro porque é um cinema político e que significa isso? Justamente que não pode ser neutro, mas que quer dar sua opinião, sua crítica, e para isso usa o que ele interessa, baseando na realidade mas somente o que importante para ele mostrar. Ai, tem sua própria reflexão sobre uma determinada realidade politica, tem sua própria interpretação da história e uma reflexão estética sobre o passado que o espectador aceita ou não, mas esse filme tenta de convencer o espectador, de demonstrar o que esta errado. Podia ser mais neutro, mas não, ele preferiu dar sua opinião.

Também acho que durante a década dos anos 60 e 70, foi a época privilegiada para o cine político, em Europa como resultado da política do “Mai 68” (Maio Francês de 68), especialmente directores como Godard, Rivette, …, o verdadeiro motor do novo cine político, entendido aí como uma indagação nas lutas obreiras com espírito de vanguarda. No terceiro mundo, sobretudo na América Latina, emerge com força desde a luta anticolonial, contra a pobreza secular e os modelos revolucionários de Cuba e da “guerrilha campesina”. Esse tipo de documentário, era proibido, então os únicos que podiam ver também era já os que eram militantes, finamente esse tipo de documental era feito para pessoas avisados, dessa forma, não ensinava nada a neguem, as pessoas que precisavam ver o filme não podia nessa época. Ele queria contar sua realidade, sua história, que quebrava o olhar hegemónica dos grupos de poder, tal como os militares, messiânicos, a Igreja, uma intelectualidade de gafas europeias e uma classe social alta conhecida como “a oligarquia”. Fernando Solana critica a oligarquia, as pessoas que queriam viver no estilo americano, que têm dinheiro, mas o filme, no inìcio, foi feito para ganhar prêmios em festivais internacionais, dessa forma finalmente ele também procura ser conhecido, e dessa forma ter fama, e não mostrar a realidade, o mais importante é a estética do filme e não que esta dizendo. Tem um estilo bem particular, parece um diaporama, flash…o seja o que ele contesta é secundário, o mais importante é a estética do filme.
Finamente, ele critica a sociedade argentina da época, mas usa a imagem do Che Guevara como um herói, e que o povo deveria fazer igual que ele, sacrificar-se para trocar a politica do pais, mas no mesmo tempo, a proposta do Che Guevara era tão violento como o capitalismo, não acho que a Revolução com as guerrilhas seja a melhor solução para esse mundo, combater a violência com a violência, acho pior e não resolve nada, vai ter uma outra critica, e dessa forma vai sair outra oposição e outra forma de combater, e de novo vai ter violência, seria repetitivo. Além disso, Che Guevara era médico e vinha duma família burguesa, como aquelas que critica Fernando Solanas. Então, se realmente Fernando Solanas queria chamar a atenção da oligarquia e dos burgueses, acho que não foi da melhor forma. Nesse documentário há um outro paradoxo, ele combate o colonialismo, a ditadura, o capitalismo, mas ele concorda e apoia o Peronismo que foi uma ditadura, mesmo se foi popular e “defendendo os direitos dos obreiros” não é menos capitalista, e não ajudou a Argentina, deixou a Argentina mais pobre ainda.


NOTAS:


1. Fernando Birri (13 de marzo de 1925; cidade de Santa Fe, Argentina) é um cineasta e teorico argentino. Conhecido como o pai do “Novo cine Latinoamericano”. Em 1956, em Santa Fe, funde o Instituto de cinematografia da Universidade Nacional do Litoral.Realizo seu primeiro filme na Escola Documental de Santa Fe se trata del cortometraje Tire Dié, considerado o primeir o documental socio-político da Argentina. Foi o fundador da Escola Internacional do Cine e TV de San Antonio de los Baños de Cuba, e foi o director e uns dos iniciadores do novo cine latinoamericano.
2. Fernando Ezequiel Solanas, ou Pino Solanas, é um documentarista político. Ele nasceu no Olivos, Buenos Aires o 16 de Fevereiro de 1936 na Argentina. Ele foi exilado durante o período da ditadura militar (1976-1983), ele foi eleito como deputado do Frepaso (centro-esquerda) de 1993 à 1997 e em Agosto 2007, se presente para as eleições presidenciais em Argentina o 28 de Outubro 2007 com o grupo Projet Sud, contra Critina Kirchner. Ele critica sua politica económica liberal. Política e cinema, portanto, estão intimamente ligados na trajetória de Fernando Solanas. Mesmo em seus projetos de ficção que, na verdade, foram decisivos para a solidez de sua carreira de cineasta (pois foi com El Exilio de Gardel e Sur que conquistou os prêmios máximos no Festival de Veneza, em 1985 e Festival de Cannes, em 1988, respectivamente), o cineasta argentino nunca se afastou do que pode ser considerado matriz do seu cinema: um projeto político nacionalista, em uma concepção estruturada pelo peronismo e ampliada pela utopia de uma “grande pátria latinoamericana”, como sonhada pelos líderes da independência dos países da América do Sul espanhola.

3. Dirigente da “junta militar” do 29 de junho 1966 até 8 de junho 1970.

4. “ La figura joven, mas extraordinaria que ha dado la revolución en Latinoamérica”

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