sábado, 30 de abril de 2011

"Maria Candelária", por Lucas Parente



Pelo início do filme, há uma ligeira lembrança de uma das clássicas “Princesas da Disney”: o arquétipo da jovem bela, pura e inocente (apesar de já começar acompanhada) que sofre com as injustiças do mundo. Maria Candelária sofre discriminação do restante do povoado o qual convive por sua mãe ter sido uma prostituta. Porém, com o desenvolver da trama, é visto que o rumo final dos personagens é menos idealizado que os das princesas e mais simbolista.

Um dos pontos tratados na obra de Emílio Fernández é a desconstrução da imagem negativa do indígena mexicano divulgada pelos filmes norte-americanos. Em “Maria Candelária” temos um indígena até romantizado (em algumas partes do filme) com objetivos nobres em suas ações incompreendidas, heróico. Isso pode ser visto em cenas que, por exemplo, Lorenzo Rafael sai à noite na chuva para roubar medicamentos (antes lhe negados) que seriam utilizados na cura de uma Candelária agonizante.

Os atores Dolores Del Rio e Pedro Armendáriz, do star-system mexicano, apesar do sucesso internacional do filme e dos padrões de atuação da época, não conseguem (assim como o resto do elenco) atingir o público atual em sua forma universal. A atuação está marcada no exagero melodramático (principalmente em certos movimentos de sobrancelha carregados).

Vale destacar no filme o uso simbólico do variado e belo figurino de Armando Valdés Peza nas personagens, principalmente no caso de Maria Candelária. A forma em que a protagonista utiliza seu xale (ou rebozo) remete diretamente a imagem da Virgem de Guadalupe, numa figura pura e materna. Também há a bela fotografia de Gabriel Figueroa a ser lembrada pelo uso da iluminação (como no caso de Lorenzo Rafael à noite em sua canoa) e enquadramentos (a imagem de Maria Candelária na igreja, submissa à Virgem de Guadalupe).

Apesar do índio bom citado anteriormente, Emilio Fernandez não se prende apenas às qualidades do povo mexicano. Ele parece fazer questão de representar o povo com um relativo equilíbrio, pois há também as pessoas de má índole presente na obra: o “casal” antagonista Lupe e o senhor Damian, ambos movidos por um tipo de inveja contra os protagonistas. Destaque para Damian, que mesmo com os traços indígenas mais fortes, ainda assim utiliza frases de certo teor racista como: “Aquele maldito índio!”.

“Maria Candelária” não é o tipo de filme em que hoje a maioria do público levaria a sério, mas não deixa de ter seus primores idealistas e técnicos. É uma ótima pedida para se conhecer mais do cinema e dos costumes mexicanos, e consequentemente seus signos culturais.

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