sábado, 30 de abril de 2011
"Luis Pardo, entusiasmo por um cinema peruano", por Evan Diniz
A cinematografia do Peru em grande parte do século XX é ínfima, se comparada a outros países latino-americanos como Brasil, Argentina e México. Grande parte dessa produção se perdeu com o tempo, e a restauração de películas ocorre lentamente com o apoio de instituições não-governamentais que buscam resgatar uma história do cinema peruano. Porém, as poucas películas que conseguiram ser restauradas entre a década de 10-40 do Peru, revelam particularidades desse primeiro cinema peruano, refletidas pelo olhar de cineastas e realizadores maravilhados pelo novo e pelo desejo de visualizar a sociedade peruana, afirmando sua identidade cultural em projeções de cinema. As primeiras experiências cinematográficas do Peru são registros documentais de acontecimentos importantes da capital Lima, e monumentos importantes da época etc. Influenciados pela crescente evolução das técnicas e narrativas cinematográficas, cidadãos peruanos como os da família “Garland” produziam seus próprios filmes caseiros.
Foi no ano de 1927 que surgiu a primeira produção fictícia de caráter “industrial” no país. Enrique Cornejo Villanueva era peruano, entusiasmado pelo cinema e criador da primeira escola de arte cinematográfica em Lima, recrutando homens e mulheres que se interessassem por cinema. Villanueva financiou seu primeiro filme, usou a imprensa para divulgação da estréia de sua exibição. Era o primeiro filme feito por um peruano para a sociedade peruana. Uma estréia que marca o desejo de consumo de um produto de orgulho nacional, onde o espectador se identificaria com as paisagens, a língua, os personagens. O tema escolhido para o filme foi a história do bandido Luis Pardo, uma espécie de “Robin Hood” peruano. A história do herói do Peru obteve êxito entre a população. A medodia entoada pelos músicos que acompanhavam a projeção tornou-se um canto popular bastante conhecido.
Luis Pardo foi fotografado pelo italiano Pedro Sambarino, importante nome do cinema latino-americano. Sambarino realizou o primeiro filme boliviano e se empenhou na produção de filmes e documentários na américa latina durante sua vida. A habilidade técnica de Sambarino é vista nos trechos recuperados e disponíveis de Luis Pardo. Interpretado por Villanueva, o protagonista é um bandido querendo vingança. O enquadramento de Sambarino no filme se mostra de boa presença com certa distância, dando ao expectador a impressão, na maioria das vezes, de segurança às ações dos personagens no filme. A qualidade da fotografia é notada principalmente no close dos personagens. Imagens limpas e nítidas em cenários externos e internos. É evidente a influência dos filmes estrangeiros na produção, que possui grande apelo a cenas de combate entre Luis Pardo e seus inimigos, tal feito demonstra o desejo visionário de atrair grande quantidade de expectadores e não limitar a produção a perfis específicos de identificação, afinal em um país de lutas constantes contra a opressão social, todos eram lutadores.
Por ser um país pobre, pouquíssimas pessoas tinham acesso ao cinema no Peru. A evolução do cinema clássico se expandia lentamente entre a América Latina, porém em Luis Pardo, vemos um tipo de produção que se preocupou com sua cinematografia. No figurino temos a maior prova disso quando Pardo desce de seu cavalo com um lenço específico de bandido no rosto. Seu cavalo é o mais magro, dando um ar de agilidade, sua camisa tem detalhes em xadrez diferente dos outros que possuem tecidos lisos. Ou seja, Luis Pardo é inconfundível na tela. Os movimentos de câmera são poucos e precários, a câmera sempre está parada em um lugar e a cena acontece em determinado campo de visão. Algumas vezes os atores saem de campo e a câmera tenta enquadrar de maneira rápida e até brusca. Notamos a dificuldade de realizar movimentos mais ousados que estavam sendo realizados por cineastas norte-americanos e europeus na época, dificuldade essa, causada provavelmente pelos equipamentos antigos.
Em poucos minutos de vídeo restaurado de Luis Pardo temos a sensação de que o início da produção cinematográfica peruana não foi muito diferente da de outros países andinos. A tecnologia chegava atrasada pelas mãos de estrangeiros. Com eles, o modo de fazer cinema e um repertório cinematográfico amplo. Villanueva que conhecia o cinema, tomou o primeiro passo no cinema peruano, e ainda que Luis Pardo pareça semelhantes a westerns estrangeiros, entre outros gêneros, o seu olhar como cidadão peruano e sua forma de ver o Peru ainda está lá, abriu portas para a voz, a história e a cultura de um povo, sua identidade.
REFERÊNCIAS
www.cinefiliaperu.blogspot.com
www.archivoperuano.com
www.cinencuentro.com/algunos-hallazgos-del-archivo-peruano-de-imagen-y-sonido
www.paginasdeldiariodesatan.blogspot.com/2007/10/luis-pardo-ochenta-aos-de-su-estreno.html (Blog de Ricardp Bedoya, autor da obra “100 anos de cine em El Peru”)
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