sábado, 30 de abril de 2011

"Os esquecidos", de Luis Buñuel, por Iara Ximenes


Filme com influências neo-realistas italianas, sem muitos romantismos, apenas a verdade nua e crua de crianças e adolescentes delinqüentes que vivem em uma situação de miséria.

O filme “Os Esquecidos” conta a história de um grupo de meninos e adolescentes que vivem na pobreza e passam seus dias roubando e pregando peças na rua. Jaibo é o rapaz que sai do reformatório e volta a viver nas ruas. Ele e Pedro são os personagens que vão dar início as confusões da trama, quando Jaibo mata Julian e Pedro, estando ao seu lado no momento, sente-se cúmplice do assassinato.

O tema da delinqüência infantil e juvenil é bastante recorrente no cinema latino-americano (apesar de causar comoções e espantos à platéia), pois retrata a realidade daquela época, quando crianças e adolescentes deixavam suas casas para irem morar nas ruas. Como por exemplo, no caso de Pedro, no filme, ele era um menino bom, mas saiu de casa, pois não se sentia amado por sua mãe, sentia falta de carinho.

Já, mais ou menos, na metade do filme, fica mais presente a ideia de que o personagem principal da história é Pedro; uma vez que ela gira em torno de sua preocupação, culpa, de sua família e principalmente do rumo que sua vida leva.
Durante o filme, a presença da mulher é forte, tanto na, já mencionada, mãe de Pedro, como na personagem Meche. As duas são tratadas, pelos próprios personagens do filme, como aquelas que servem apenas para divertimento, como é mostrado quando Jaibo brinca com Meche ou com a mãe de Pedro. Mas, as duas tem uma característica em comum que é levantada, discretamente, no filme: a força dessas mulheres, que precisam trabalhar para conseguirem o que quer e sustentar sua família em momentos de pobreza.

É possível perceber também, a influência da escola surrealista, por exemplo, no sonho de Pedro. Ele, se sentindo culpado por ser cúmplice de um crime, tem sonhos em que vemos certo tipo de transcendência e aparição de imagens simbólicas. Essas não fariam sentido, a não ser em um sonho, uma vez que este também é um tema muito abordado nas obras surrealistas. Essa referência é uma volta ao seu estilo anterior, quando Buñuel trabalhava com Salvador Dalí e dirigia filmes como “Um Cão Andaluz”, de cunho completamente surrealista.

Luis Buñuel dirigiu “Os Esquecidos” em sua fase mexicana. Buñuel, nascido na Espanha, muda-se para os EUA, em 1936, quando a guerra civil espanhola se instala. Em 46, Buñuel vai para o México, onde realiza alguns filmes comerciais antes de “Os Esquecidos” em 1950. O filme não agrada ao público, mas é muito bem recebido pela crítica, que coloca Buñuel de novo na lista de cineastas de primeira classe e lhe dá o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Falece aos 83 anos, vítima de câncer no fígado e no pâncreas, na Cidade do México.

Um comentário: