sábado, 30 de abril de 2011

"Os esquecidos", de Luis Buñuel, 1950, por Pedro Coelho


Coitado de Jaibo! Lutou incessantemente pela condição absurda que esmaga não só as crianças pobres das grandes cidades, mas a todos os indivíduos que suportam o peso da humanidade. Sua coragem ilimitada para transcender se perde pela sua falta de pontos de apoio. Como é rápida a transformação de um grande homem em um cruel sociopata.

Pobre de Pedro! Que a vida fez de uma pessoa boa uma pessoa má. Sua confusão e ingenuidade jogou-o direto em um redemoinho sangrento. No reformatório, uma esperança, mas para quem já se sujou sempre é possível ir mais fundo na lama, sem culpa, sem consciência, levado pela força avassaladora do passado. De onde vem a coragem de lutar com Jaibo, duas vezes maior e mais forte?

Mais pena ainda do homem cego! Mais fraco que todos nós, cuja vida desde a nascença obrigou-o a falsa bondade e um quarto escuro escondido nas ruínas e lá dentro busca uma criança ingênua para lavar-lhe o corpo e putrificar-lhe a alma.

Misericórdia de todos nós! Isolados por paredes de concreto e rios caudalosos de automóveis. Sorrindo e se abraçando nos espaços públicos, brindando para esquecer o medo do nada que sentimos dentro dos apartamentos de dentro.

Mas jamais pena de si próprio! Caso contrario todos esses sentimentos terão sido em vão. Lutar como Jaibo, ter a coragem de Pedro e a frieza do homem cego. Fazer o bem e o mal. Quem é quem?

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