O
filme Deus e o Diabo na Terra do Sol
lançado em 1964, um filme escrito, produzido e dirigido por Glauber Rocha,
cineasta baiano, que retrata bem a estética do Cinema Novo, um movimento
cinematográfico brasileiro que visava quebrar com os padrões estéticos europeus
e Hollywoodianos e criar algo genuinamente brasileiro. Surge como um movimento
político e cultural que mostrava a realidade brasileira de forma crua e original.
Deus e o Diabo na terra do Sol
é um bom exemplo dessa estética, pois já no início temos a frase de Glauber que
diz “Vou contar uma estória. Na verdade e
imaginação. Abra bem os seus olhos. Pra escutar com atenção. É coisa de Deus e
Diabo. Lá nos confins do sertão.” que além de retratar o conteúdo do filme,
exalta também a ideia política do cinema novo, retratar uma identidade cultural
brasileira. O filme que conta a história de um casal nordestino, Manuel
(Geraldo Del Rey) e Rosa (Yoná Magalhães) que representam a realidade das
famílias sertanejas, pessoas pobres que vivem em situações de miséria,
injustiça e fome, mas que não perdem a esperança de uma vida melhor. Manuel tem
um desentendimento com um coronel pra quem trabalha e acaba por assassina-lo e
durante sua fuga, ele e sua esposa, se veem a mercê do pregador Sebastião.
Enquanto Rosa representa a “razão”, pois é ela quem puxa Manuel de suas crises
de insanidade pra realidade, Sebastião representa na trama o fervor e
fundamentalismo religioso a que os desesperados estão sujeitos, pois na falta
da esperança e na miséria as palavras de conforto do beato são a luz no fim do
túnel e vão à busca da “terra prometida”, representado no filme pelo mar e que
é a metáfora do êxodo para as grandes cidades, Rio de Janeiro e São Paulo em
busca de uma vida melhor. Além disso, temos figuras que representam também o
Estado por meio dos coronéis que são os representantes políticos e que
controlavam as regiões e não se importavam com a situação de pobreza dos
nordestinos. É nesse contexto que surge o personagem Antônio das Mortes (Maurício
do Valle), jagunço que é o braço armado de um coronel e que resolve tudo na
violência. A figura de Corisco é dos cangaceiros que por vezes eram o
contraponto aos coronéis e que é mais um forte elemento de cultura nordestina.
O filme é cheio de metáforas poéticas pra realidade do povo.
Contando
com uma fotografia toda em preto e branco que aumenta a dramaticidade da
película, exaltando assim todo o sofrimento vivido pelos nordestinos. A trilha
sonora também é parte viva e importante, pois são feitas com vários cordéis escritos
pelo próprio Glauber que as vezes funcionam como uma reiteração do que acontece
em cena, outras vezes a trilha é composta por composições de Villa-Lobos que
aumentam ainda mais a dramaticidade em cena. Com uma montagem e cortes quase
experimentais e um inteligente uso dos ângulos de câmera mostram como Glauber
sabia trabalhar com as limitações de recurso cenográficos da época – exemplo
das cenas de apunhalamento – com uma atuação por vezes naturalista e por vezes
teatral, funcionam bem no contexto da historia compõe a mise-en-scène de Deus e o
Diabo na Terra do Sol.
Todos
esses elementos tornam Deus e o Diabo na
Terra do Sol um ótimo representante do Cinema Novo e apesar das cinco décadas
de existência, o filme ainda retrata bem a dura realidade do nordestino nos
tempos atuais, mostrando que mesmo que as técnicas cinematográficas tenham
mudado a realidade do sertanejo não evoluiu tanto.
REFERÊNCIAS
XAVIER,
Ismail. Sertão mar: Glauber Rocha e a estética da fome. São Paulo: Brasiliense,
1983. 171p. : il.
SANTOS,
Tito Eugênio Souza. Entre o mar e o sertão: uma análise da narrativa de “Deus e
o Diabo na Terra do Sol” disponível em
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