sábado, 4 de junho de 2016

Y, se murió de lágrimas. "Maria Candelária", por Thayná Torella




 
 
Pensando nos dias atuais, em que o Brasil sofre um atentado contra sua democracia. Em que a Cultura é dada como inimiga, e o cinema nacional tenta legitimar sim um lugar já alcançado. É Maria Candelária de Emilio Fernandez em 1944, que abre o caminho para o cinema  latino-americano no exterior. É neste ano em que pela primeira vez exibe-se um filme latino-americano no Festival de Cannes, e seria este também o filme que ganharia a “Palma de Ouro”.O filme carregado de símbolos e signos, sustenta o moralismo da época. Maria Candelária aqui, filha da puta, carrega o fardo da história da mãe, morta apedrejada pela população da Vila.
 
Essa mesma população persegue Maria Candelária Madalena de Guadalupe. Sim,porque seria esse o nome ideal da personagem. O filme mostra a moça santa e inocente,que precisa ser despregada da história da mãe. Maria Candelária não tem culpa por ter tido uma mãe que descumprisse os valores morais da época. E é o que o filme prega, olhar para o lado da compaixão. Um reforço cristão a narrativa. Mas, se o filme se passasse hoje, Maria Candelária seria puta sim, e deveria ser respeitada por isso. Isso se falarmos na cena B de Cinema, porque o conservadorismo não seria coisa apenas da
época, ele ainda permeia, e muitas vezes camuflado nos filmes atuais.
 
Com uma mise en scène troncha, mas suntuosa. É perceptível que aquele não é o México retratado. Aqueles índios postos em cena, e a megalomania dos cenários, tudo herança dos grandes estúdios hollywoodianos, tudo Douglas Sirk, e que não passa de uma realidade fake e estereotipada.
 
Mas, o que teria valido nesse filme afinal? - Seria tudo fake?
Não saberia dizer se seria tudo tão inverossímil e se seria este, o verdadeiro caminho a se fazer ao refletir o filme. Neste momento, deveríamos desapegarmos da fake paisagem do México e apegarmos apenas a imagem de Maria Candelária e Lorenzo Rafael.
Porque afinal das contas, o filme fala do amor de ambos, e de como existem tantos empecilhos para que ambos se casem. E é nisso que o filme ganha como melodrama.Ele tem um cenário legítimo dos acontecimentos injustos da vida. Não é com o cenário que ele alcança seu público, mas sim com a verossimilhança dos problemas do homem e da mulher numa sociedade real. O público se identifica àquele cenário de dor, e de certa forma exorciza a dor real frente a tela, chorando a cada lamurio de Maria Candelária.
 
Acredito que assim como as novelas televisivas mexicanas/brasileiras/colombianas, o melodrama aqui, consegue alcançar um público que busca apenas se emocionar, por uma narrativa de sensações e emoções, e apelar ao som e a imagem, não é recorrer a um recurso fora do caminho. É tudo válido. Até apelar ao rosto bonito de Dolores Del Rio, que nos tira o fôlego, numa atuação visivelmente encenada, mas que passa desapercebida comparada a atuação da estrela.



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