sábado, 4 de junho de 2016

"Hasta el viento tiene miedo", por David Thyago Silva


 
Hasta el viento tiene miedo é um filme mexicano de 1968, dirigido por Carlos Enrique Taboada. É um clássico do horror latino-americano e conta a história de Claudia, uma jovem que estuda numa escola só para moças e tem sonhos durante a noite que a inquietam. Neles, uma voz chama seu nome como um sussurro. O filme abre com esta cena e o som do nome de Claudia soa como parte do vento compondo uma trilha de horror tal qual uma espécie de Janet Leigh nos gritos de Psicose.

Claudia após acordar de suas visões sombrias, descobre uma torre trancada e proibida de entrar. Ela e mais umas amigas acabam vendo um fantasma pela janela da torre. A porta abre misteriosamente e elas tentam entrar, mas são descobertas pela governanta e são punidas por isso, ficando na escola no período das férias. A trama a partir daí cresce gradativamente em torno das visões de Claudia e de quem seria esse fantasma que todos passam a ver.

O horror de Taboada usa elementos do gênero, como o lugar inóspito e viradas no roteiro a cada sequencia, embora a câmera fixa no fantasma da menina logo no inicio do filme possa estranhar espectadores mais modernos e pós bruxa de Blair. Ele não é sucinto em mostrar o que põe medo no vento já no inicio do filme, ainda que seja uma imagem borrada e isso vale a pena salientar, até o final do filme não há uma imagem clara do fantasma da menina.

Toda a fotografia do filme não permite que tenha clareza nas imagens, na verdade. Uma iluminação dura é projetada em quase todas as cenas, o que acaba desenhando o tom de mistério e incertezas que ora atenua ora acentua na película. Essa oscilação amarra a direção de Taboada, mas não elimina – e nem interfere – a atuação quase novelesca do elenco. Há momentos que se aproxima do primeiro cinema, afinal a própria mise-en-scène é extremamente marcada e teatrista.

Outro ponto importante é o som. Talvez o mais importante. O filme que carrega em si que até o vento teve medo não poderia ficar isento de um som bem orquestrado. Como já dito, o som do vento serve como trilha, mas vai além. É um elemento narrativo usado como leitmotiv para as cenas de maior tensão e suspense. Sempre que escutamos o som do vento mais forte, sabemos que alguma coisa irá acontecer ou nada, como parte da estrutura do gênero.

As relações humanas amarram bem a obra. De forma não tão aprofundada, mas propositalmente perceptível, Taboada aponta para questões da repressão feminina. Isso é mostrado em varias cenas como a dança ao piano, em que uma das alunas interrompe com ameaças e acaba culminado no strip-teaser, que também tem uma reação chocante para as próprias alunas. Para que essa ideia não pareça vaga e sem sentido, citarei outro exemplo. Quando uma das alunas fala sobre seu namorado, Armando e infere questões de teor sexual sobre ele, ela é exortada pela governanta.

Ao final do filme e o plot revelado manifestar-se como um filme de vingança, é possível conectar essa questão da repressão com o mistério que rondava a vida das personagens desde o início do filme. A obra é sem dúvida importante para a filmografia de Taboada, que registrou na história do cinema latino-americano a marca do horror e do vento.

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