sábado, 4 de junho de 2016

"Simão no deserto", por Junior de Mello



Simão no Deserto (Luis Buñuel, 1965) tem a duração de 45 minutos aproximadamente. Começo minha resenha com essa informação, pois ela é fundamental para o pleno funcionamento da obra: ela acabou ficando com o tamanho ideal para a proposta do diretor. Diferentemente dos seus melodramas mexicanos,  Buñuel traz de volta o surrealismo inicial dos seus trabalhos europeus.
O filme mostra a história de Simão (Claudio Brook), uma espécie de profeta auto penitente, que é a perfeita mistura entre os profetas bíblicos Jesus Cristo (milagreiro) e Jó (sofredor), encarnados em um humano contemporâneo. Ele decide abdicar da vida (que vida?) normal e passa a viver em cima de uma espécie de coluna romana que encontra-se no meio do deserto, pois assim ele acredita que irá aproximar-se de deus, mas o que ocorre é o contrário, satanás em pessoa, ou melhor, na pele da belíssima e tentadora Silvia Pinal, é que aparece para aprontar de tudo um pouco com nosso coitado herói.

É ai que o filme ganha o público, através do contraste das tentações do diabo contra Simão. A primeira destas tentações, quando a bela diaba se mostra com a aparência de uma ninfeta pura, ou melhor, nem tão pura assim – uma verdadeira Lolita – e se insinua sexualmente para nosso homem de fé. A cena tem três sequências bastante ousadas. Em uma, ela no alto da pilastra, lambe de forma libidinosa, o rosto de Simão. Ela também levanta a saia e mostra as belas pernas com espartilho, depois desabotoa a blusa e exibe o seio. Estas cenas são de um erotismo imenso, a ponto de arrancar reações químicas ainda nos dias atuais, que o diga na época em que o filme foi gravado. Além disso há algo de profano ao misturar temas religiosos com erotismo.

A diabinha não se dá por vencida, e continua suas diabruras contra o pobre Simão. Hora ela tenta caluniar o mesmo, possuindo um dos clérigos admiradores dele, hora ela possui um padre e tenta persuadir nosso homem de fé. Talvez o ápice da obra seja quando ela aparece vestida de deus, com vestes brancas, segurando um carneirinho, e tenta, na lábia, persuadir mais uma vez Simão a abandonar sua penitência e descer da pilastra, mas seu esforço é em vão, pois ele percebe que ela é o satanás e não cai na sua conversa. Quem sofre com isso é o carneirinho, que é jogado no chão e leva um chute digno de futebol americano – pobre criatura.

A verdade é que apesar de toda a dramaticidade do protagonista, Simão no Deserto não comete os excessos de outras produções mexicanas, como por exemplo Maria Candelária, e mesmo o protagonista possuindo de fatos poderes divinos – já que na primeira cena do filme ele, através de uma oração, faz nascer as mãos de um bi-ampultado diante de uma multidão, esse lado milagroso é deixado em segundo plano a partir dai (ainda bem).

Mais adiante, acabamos nos surpreendendo com o desenrolar final da trama, que se dá longe do deserto, em um contexto totalmente diferente. Simão no Deserto é uma ótima opção para quem gosta de bons filmes. É bem bolado, bem humorado, mas tudo na medida certa, sem exageros. Apesar de não possuir um espanhol muito afiado e a única cópia que encontrei na web estar sem legendas, a experiência foi bastante boa, sinceramente, gostei bastante do filme.

 

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