Simão
no Deserto (Luis Buñuel, 1965) tem a duração de 45 minutos
aproximadamente. Começo minha resenha com essa informação, pois ela é
fundamental para o pleno funcionamento da obra: ela acabou ficando com o
tamanho ideal para a proposta do diretor. Diferentemente dos seus melodramas mexicanos, Buñuel traz de volta o surrealismo inicial dos seus trabalhos europeus.
O filme mostra a
história de Simão (Claudio Brook), uma espécie de profeta auto penitente, que é
a perfeita mistura entre os profetas bíblicos Jesus Cristo (milagreiro) e Jó
(sofredor), encarnados em um humano contemporâneo. Ele decide abdicar da vida
(que vida?) normal e passa a viver em cima de uma espécie de coluna romana que
encontra-se no meio do deserto, pois assim ele acredita que irá aproximar-se de
deus, mas o que ocorre é o contrário, satanás em pessoa, ou melhor, na pele da
belíssima e tentadora Silvia Pinal, é que aparece para aprontar de tudo um
pouco com nosso coitado herói.
É ai que o filme ganha
o público, através do contraste das tentações do diabo contra Simão. A primeira
destas tentações, quando a bela diaba se mostra com a aparência de uma ninfeta
pura, ou melhor, nem tão pura assim – uma verdadeira Lolita – e se insinua
sexualmente para nosso homem de fé. A cena tem três sequências bastante
ousadas. Em uma, ela no alto da pilastra, lambe de forma libidinosa, o rosto de
Simão. Ela também levanta a saia e mostra as belas pernas com espartilho,
depois desabotoa a blusa e exibe o seio. Estas cenas são de um erotismo imenso,
a ponto de arrancar reações químicas ainda nos dias atuais, que o diga na época
em que o filme foi gravado. Além disso há algo de profano ao misturar temas
religiosos com erotismo.
A diabinha não se dá por
vencida, e continua suas diabruras contra o pobre Simão. Hora ela tenta
caluniar o mesmo, possuindo um dos clérigos admiradores dele, hora ela possui
um padre e tenta persuadir nosso homem de fé. Talvez o ápice da obra seja
quando ela aparece vestida de deus, com vestes brancas, segurando um
carneirinho, e tenta, na lábia, persuadir mais uma vez Simão a abandonar sua
penitência e descer da pilastra, mas seu esforço é em vão, pois ele percebe que
ela é o satanás e não cai na sua conversa. Quem sofre com isso é o carneirinho,
que é jogado no chão e leva um chute digno de futebol americano – pobre
criatura.
A verdade é que apesar
de toda a dramaticidade do protagonista, Simão
no Deserto não comete os excessos de outras produções mexicanas, como por
exemplo Maria Candelária, e mesmo o
protagonista possuindo de fatos poderes divinos – já que na primeira cena do
filme ele, através de uma oração, faz nascer as mãos de um bi-ampultado diante
de uma multidão, esse lado milagroso é deixado em segundo plano a partir dai
(ainda bem).
Mais adiante, acabamos
nos surpreendendo com o desenrolar final da trama, que se dá longe do deserto,
em um contexto totalmente diferente. Simão
no Deserto é uma ótima opção para quem gosta de bons filmes. É bem bolado,
bem humorado, mas tudo na medida certa, sem exageros. Apesar de não possuir um
espanhol muito afiado e a única cópia que encontrei na web estar sem legendas,
a experiência foi bastante boa, sinceramente, gostei bastante do filme.
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