Baseado na
novela de Samuel Feijóo ,Juan Quin Quin
em pueblo Mocho (1963), Las Aventuras
de Juan Quin Quín conta as peripécias de Juan Quin Quin e o seu amigo
Jachero. Para conseguir dinheiro, os
dois camponeses cubanos vão ter algumas extravagantes ocupações (cantores
em coral, de toureiro, de artista circense, intérprete da paixão de Cristo, cortadores
de cana-de-açúcar) para finalmente se juntar à luta contra a ditadura de
Batista na Sierra Maestra. Trata-se, por conseguinte, de uma história de
formação, que culmina com a tomada de consciência revolucionária.
A estrutura do filme é episódica, e dentro da
narração mesmo se alternaram duas etapas distintas: as diversas aventuras que
efetuarão a tomada de consciência do protagonista; e o momento onde Juan Quin
Quin é um líder revolucionário que combate na montanha. Nessa etapa, o
personagem é caracterizado pelos traços típicos do herói revolucionário cubano:
barba longa e fuzil ao ombro. Alterando assim a ordem cronológica, o diretor
chegou a quebrar a maneira tradicional de tornar conta do processo de tomada de
consciência de um personagem.
No momento
em que realizou Las Aventuras de Juan
Quin Quín García-Espinosa era Vice-Presidente do ICAIC – instituição que
tivesse contribuído para fundar – e diretor do departamento de Programação
artístico do Instituto. Com esse filme,
o diretor cubano afirmou a ruptura dele com o neorrealismo italiano (presente
nos primeiros filmes dele) e o interesse
dele para a experimentação de novas formas cinematográficas. O filme tem, por
conseguinte, uma espécie de valor iniciático para o diretor mesmo. Embora seja impossível negar a importância
que teve o neorrealismo no desenvolvimento do cinema cubano post- revolucionário,
afirma que seria a superação desta referência que permitirá ao cinema de ficção
cubano encontrar os seus próprios traços expressivos.
Essa
autonomia é proclamada através os personagens arquetípicos da tradição romesca ibero-americana, comédia de tradições
populares profundamente enraizada na América Latina. O desejo aproximar-se de
um público popular e numeroso, através de uma realidade social e dos imaginários
coletivos populares é uma das características fundamentais dos filmes de
García-Espinosa. ). Las Aventuras de Juan
Quin Quín segue esta estética: utilizar um tipo ligeiro como estratégia
narrativa para expor um pensamento profundo sobre o processo revolucionário
cubano e as convenções estilísticas do cinema industrial dominante.
Os padrões
técnicos de Las Aventuras de Juan Quin
Quín se aproximam do cinema hollywoodiano: foi filmado em 35 mm, formato
cinemascope – preto e branco por razões econômicas – e dura 110 minutos. Mas
esse filme mostrou um modo revolucionário, através da experimentação formal,
caracterizada pela ruptura das estruturas narrativas. García-Espinosa não tenta
copiar os tipos cinematográficos de Hollywood, mas antes de estabelecer um
diálogo crítico com estes, onde a oposição às estruturas e os códigos
narrativos tradicionais manifesta-se às vezes através da ironia e a paródia de
tipo “aventura”. Assim, ele convida o espectador a olhar o filme diferentemente
de um filme tradicional. O diretor
utiliza uma série de métodos de caráter brechtiano e esticando até obter um
efeito de distanciamento que permitiria,
de acordo com a cineasta, “de activar el espíritu crítico del espectador” e
“despertar su inteligencia”, criando assim um "público-inventor".
Esse filme é a história de um herói essencial,
alegoria da força revolucionária, mas apresentado através de formas “menores”
que são a comédia e o cinema de aventura. Em ruptura total com a seriedade que
até então tivesse caracterizado a temática da revolução cubana, o filme
provocou fortes debates no ICAIC, mas o
filme saiu o 12 de fevereiro de 1968 e o seu sucesso foi maior que previsto :
foi, durante mais de vinte anos, o filme mais visto da história do cinema
cubano, que se explica em parte pela maneira lúdica que o filme propunha
revisitar criticamente o cinema de tipo, e pela revalorização da identidade do
guajiro (camponês cubano). Assim o espectador do filme esta em cumplicidade,
evitando o risco de mistificação do herói revolucionário que emerge do povo
cubano mesmo.
Os dois
anos e cerca de que separam a realização de Las
Aventuras de Juan Quin Quín e a escrita de Por um cine imperfecto (1970), foram fundamentais para a maturação
das ideias de García-Espinosa sobre o cinema popular. De acordo com ele, a
consolidação das obras cinematográficas da América Latina e o Terceiro mundo
deverá necessariamente passar por uma dinâmica de ensaios e de erros, inerente
à qualquer desenvolvimento. É preferível aceitar e assumir certa “imperfeição”
técnica antes de permanecer paralisado numa tentativa de atingir o grau de
virtuosismo do cinema de Hollywood ou as cinematografias da Europa ocidental,
cujos orçamentos são inatingíveis para os cinemas latino-americanos. Priorizar
a qualidade técnica em detrimento da urgência e da impaciência criativas é uma
atitude que ele considera deslocada da preocupação para a realidade social
latino-americana e, consequentemente, reacionária. É precisamente essa
capacidade do cinema, ligada ao seu caráter de arte e espetáculo de massa, que
García-Espinosa tenta pôr em relevo pelo manifesto Por um cine imperfecto e Las
Aventuras de Juan Quin Quín .
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