segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Barravento", por Lady Patrícia Oliveira




Mudanças à vista no cinema! Ávidos por um novo conceito e uma nova forma de fazer filmes, jovens cineastas latino-americanos seguiram na esteira de movimentos cinematográficos que tinham novo até no nome: na Itália, o Neo-Realismo; na França, a Nouvelle Vague. No Brasil, no início da década de 1960, surgia o nosso Cinema Novo, que tal como seus antecessores, buscava uma nova estética como resposta às produções clássicas e comerciais, tendo como pano de fundo a efervescência da pré- ditadura militar.

Foi Nelson Pereira dos Santos quem lançou as bases anos antes com seu Rio, 40 Graus, mas aqui, o maior representante do movimento foi mesmo o baiano Glauber Rocha. Depois de exercer a crítica de cinema em jornais, o jovem migrou para trás da câmera, levando consigo todo o seu engajamento por uma nova estética para aquele período. Após o curta O Pátio (1959), com apenas 20 anos de idade ele roda Barravento, seu primeiro longa, lançado três anos depois. Ainda que este filme tenha sido um projeto para o qual Glauber foi chamado às pressas, ou como ele próprio declarou, “uma experiência de iniciante”, ele já mostra a que veio.

Na história, uma pequena aldeia de pescadores encapsulada do mundo vive um dia de cada vez, até que um ex-morador retorna para incitar os habitantes a livrar-se de suas velhas crenças e lutar contra a escravidão que, segundo ele, ainda não acabou para os negros, maioria no local, pois estes ainda tiram seu sustento de uma rede alugada de um homem branco.

O letreiro de abertura avisa: barravento é o momento da transformação, momento em que ocorrem súbitas mudanças. Não poderia, pois haver melhor título para o filme que parecia prenunciar toda a obra de Glauber. Não há como escapar do tom de crítica social embutida na trama: Firmino é o elemento subversivo, a voz do diretor, pois aquele pequeno universo da aldeia representa uma parte do povo brasileiro, alienada pela religião e seu misticismo, estes supostamente responsáveis por suas vidas miseráveis. Pelo lado estético, ainda não há tanto a câmera na mão, marca do Cinema Novo. Mas as soluções encontradas pelo diretor contribuem para o realismo do filme, como o uso da luz natural das praias da Bahia como locações. Por outro lado, as cenas dos pescadores remendando a rede, ou jogando-a ao mar adquirem um caráter quase documental.

Em Barravento, mesmo que ainda não fosse Glauber Rocha em sua totalidade, já era possível vislumbrar as características mais marcantes de sua futura obra. O Cinema Novo estava nascendo no Brasil naquele momento, portanto ainda tateava, buscando a melhor maneira de contar histórias que espelhassem a realidade social do país, como uma maneira de conscientização política da população, o sonho jamais alcançado pelos cinemanovistas brasileiros.

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