sábado, 20 de novembro de 2010

"Pela própria natureza", por Magnun Estalonne




O aspecto físico do tímido e simples Jara (Horacio Camandule) pode parecer o motivo que dá título ao filme uruguaio/argentino: Gigante. Mas, mesmo fugindo dos padrões estéticos e característicos do típico protagonista de filme romântico, o silencioso segurança que passa suas madrugadas a observar a faxineira Júlia (Leonor Svarcas) pela pequena tela da câmera de vigilância, desperta o verdadeiro “gigante”: o sentimento amoroso que ele sente por ela - em outras palavras - o “amor”.

O que poderia se tornar um filme dramático - de um desejo obsessivo - se demonstra como um belo filme de autodescoberta e amor à moda antiga. Em que o desajustado Jara, mesmo dividindo seu tempo nos dois empregos de segurança (em um supermercado e em uma casa noturna), além de cuidar do sobrinho em alguns momentos, se interessa pela imagem da jovem que ele nunca viu pessoalmente, apenas pela sua tela da câmera de vigilância, desejando ansiosamente que esse momento de vigília chegue; dessa forma, o personagem é surpreendido por sentimentos que aparentemente nunca sentiu: ciúme, raiva, vergonha e, principalmente, amor.

É essa descoberta que passamos a acompanhar ao longo do filme. Por vezes, o personagem premedita ações óbvias, mas somos pegos de surpresa, e tal fato se dá por associarmos Jara a ações típicas do homem moderno, categoria em que ele não se enquadra. Uma delas é quando ele segue um suposto namorado de Júlia: por seu jeito bruto é esperado algo violento, mas, depois de alguns desenlaces eles acabam amigos, não sem antes conseguir informações sobre a faxineira; que em uma primeira análise poderiam servir como elementos de conquista, mas, se ao longo do filme o espectador perceber as camisas do “gigante” saberá que elas servem como certezas de que ela é a mulher ideal.

Os protagonistas são personagens inexpressivos. Enquanto Jara passa a maior parte do filme falando através de monossílabos, Júlia não diz uma palavra, ambos têm movimentos acanhados e suas relações com outras pessoas sempre soam como desconforto por parte deles. E, não obstante, para ela se relacionar com pessoas recorre também a uma tela: a de um computador, em que nas salas de bate-papo conhece homens para, quem sabe, manter uma relação de afeto. Essa semelhança demonstra que não é apenas o segurança a ter uma vida deslocada da realidade, em que o virtual exerce grande influência para a sua vida, a faxineira também padece desse problema de contato humano no mundo real.

O filme, além de ser sutil no caso de amor, também é em temas polêmicos como homossexualidade, política e infância corrompida, todos eles apenas exercem papel figurativo na história, porque nem secundários eles os são. Essa dualidade ajuda a manter o controle da narrativa dos personagens, que são passivos em relação a tudo, até no controle do ímpeto sexual, algo que os dois não apresentam em nenhum momento. Jara e Júlia, apenas dois peixes no vasto oceano, que no minimalismo de suas histórias encontram-se absortos na simplicidade do amor e não almejam nada mais que encontrarem o par perfeito para viverem apenas uma vida plena.

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