segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Subida ao Céu", por Sofia Donovan



Esse filme de 1952 é um dos melodramas que integram a prolífera Era de Ouro cinematográfica Mexicana. O espanhol Luis Buñuel, que iniciara sua carreira junto ao surrealista Dali, devido a desvios encadeados pela guerra civil em seu país acabou indo parar no México, onde adaptou sua produção ao popular gênero. Em Subida ao Céu estão presentes os excessos, o exagero das atuações e situações, a moral cristã, o império dos sentimentos mais básicos (os dramas familiares e afetivos) sobre qualquer aprofundamento contextual ou até do próprio desenvolvimento dos personagens, o maniqueísmo e outras tantas características melodramáticas.

Subida ao Céu conta as desventuras de Oliverio (Esteban Márquez), que tem sua noite de núpcias interrompida pela mãe moribunda, temerosa da ganância dos outros filhos. Ela lhe envia a outra cidade atrás do advogado da família para garantir que seus desejos para o destino da herança sejam cumpridos. Oliverio ingressa em uma espécie de epopéia melodramática, uma peregrinação angustiante na qual suas virtudes são requisitadas e colocadas em jogo.

Porém, apesar da temática, o filme me parece mais irônico do que trágico. É permeado por piadas; com políticos: um candidato a deputado encontra seu opositor, que simplesmente é igual a ele; com a questão do subdesenvolvimento: é sublinhado o deslumbramento do povo com a industrialização, sua preocupação com uma “urbanidad”; com a própria estrutura melodramática e a moral cristã que parece pregar: “Subida al Cielo” é realmente o nome de uma subida íngreme e seu topo é o lugar onde o protagonista comete o pecado de trair sua mulher. Vale ressaltar além de tudo isso o “circo” que acompanha o protagonista em sua viagem: o coronel “mandão” sempre armado, o já citado candidato a deputado que “fala bonito”, o latifundiário falido, as crianças infernais, a matrona, a “gostosona” interesseira, o motorista displicente, o aleijado, uma criança que nasce e outra que morre.

O filme se desenvolve sem preocupações com o realismo, o que é uma das características do gênero, mas é algo que também não se pode estranhar vindo de Buñuel. Dos planos e sequências que trazem a marca do filho do surrealismo se destaca um devaneio simbólico do protagonista, que perdido entre o desejo e culpa, interage com sua mãe, sua mulher e a mulher que o “tenta”, no qual Buñuel subverte tempo e espaço e abusa do absurdo. Tive a oportunidade assistir recentemente Os Esquecidos, que rendeu a Buñuel o prêmio de direção em Cannes, filme também de sua fase mexicana, e apesar das grandes diferenças, desse outro se tratar de um drama social, com personagens mais realistas e temática diversa, também nele há uma sequência marcante de sonho, inclusive relacionada à culpa.

O cineasta espanhol “entrou na onda” dos melodramas, mas, citando uma frase de um artigo de Luiz Zanin Oricchio (O Estado de São Paulo) nunca deixou de lado “alguns motivos centrais - a crítica da religião e da hipocrisia burguesa, os paradoxos da sexualidade, a força do desejo, os automatismos mentais, que obedecem, ao mesmo tempo em que escapam, as determinações sociais e históricas.”


Fontes:

http://www.revistaav.unisinos.br/index.php?e=9&s=9&a=50

http://pt.wikilingue.com/es/Cinema_mexicano

http://insurretosfuriososdesgovernados.blogspot.com/2009/01/anarquista-libertrio-surrealista.html

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