segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"Los tres huastecos", por Lucas Freire Rafael



Amores, traições, conquistas, reviravoltas e uma enxurrada de outros títulos-bordões podem ser atribuídos a Los Tres Huastecos (1948), de Ismael Rodriguez. Seu brilhantismo de fato ainda não havia ocorrido, pois só tardiamente, em 1968, com o Animas Trujano, Ismael conseguiu projetar seu nome mundialmente. A prova disso foi o fato do diretor ter sido nomeado a diversas premiações mundo afora, entre eles, o Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira.

A sinopse por si só já evidencia a carga cômica que o filme possui: três irmãos gêmeos nascem em Huasteco, uma cidade do México, mas ainda bebês eles são separados devido a morte de seus pais. Então, cada um deles passa a criar sua vida em vilarejos próximos. Juan de Dios vive em Potosino e atua como padre e dono de uma igreja; Víctor, de Veracruzano, é capitão do exército; e, por fim, Lorenzo vive em Tamaulipeco como um dono de bar. Porém, um assassino conhecido por Coiote está à solta, e Victor foi designado a encontrá-lo e prendê-lo. No desenrolar do filme, as situações são feitas, obviamente, para que o reencontro entre os três irmãos ocorra e assim possibilite que a trama se desenvolva como o esperado.

No filme, desde o início, é forte a marcação do diretor de distinguir claramente as características, personalidades e caráter dos personagens principais, todos eles interpretados por Pedro Infante. Juan de Dios é atento às leis divinas e segue sua vida de acordo com a ética cristã, e por isso, muitas vezes durante o filme expõe opiniões discriminatórias em relação à mulher (provavelmente algo comum à época) e em torno de tudo isso, passa uma imagem de bondoso, educador, benevolente. Por sua vez, Víctor adentra na posição de capitão do exército e se demonstra autoritário, canastrão, mulherengo, o típico oficial que abusa da autoridade para conquistar mulheres. E por fim, o “misterioso” Lorenzo, que transparece uma imagem de sério, sisudo, introspectivo e de extremo mal-humor. Como pode-se notar, cada personagem possui uma profissão ou ocupação e sua personalidade é traçada de acordo com o estereótipo pertencente a cada cargo. Este fato evidencia ainda mais a ideia de separação entre os três personagens.

Essa tentativa de distinguir cada personalidade consegue se impor até certo momento, pois é a partir do reencontro dos irmãos que, aos poucos, as personalidades e/ou atuações vão se misturando até chegar ao caos que o final sugere, no qual encontramos todos os três personagens vestidos da mesma forma, interagindo entre si. Neste instante, todo o empenho visto durante o filme de sustentar essas três personalidades some, e no lugar, a confusão se instala. Já ao final de seus longos 120 minutos, o filme torna-se então um grande passatempo: descobrir quem é quem.

É um filme divertido, com canções alegres e cantantes, com personagens (em sua grande maioria) pitorescos que estão ali claramente para contar uma história sem muitas dificuldades, mas que infelizmente encontraram algumas. Mas se tratando do gênero, tais “empecilhos” podem ocasionar, hoje, o efeito inverso. Ao invés de deteriorar a obra, acabam por enaltecer e atribuir mais valores ao filme, e em definitivo, é exatamente isso o que ocorre com Los Tres Huastecos.

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