sexta-feira, 30 de outubro de 2009

"Água Caliente para Chocolate" por Evandro Mesquita


É um delicioso filme de Alfonso Arau sobre amor, tradições, paixão, comunicação e comida. A presença marcante do misticismo ao longo do filme vem regada à alegoria da comida. A estória acontece no início do século 20 no México. A protagonista, Tita é a última das três filhas que nasce com o destino marcado. De acordo com a tradição Mexicana, a última filha a nascer ficava proibida de casar para que ela pudesse cuidar da mãe em seu envelhecimento. Tita estava sempre na companhia de Nacha, a empregada da casa, e se torna a cozinheira da família. Quando desperta para a sexualidade, apaixona-se por Pedro, um menino formoso de uma fazenda vizinha. Elena, mãe de Tita, recusa-se a aceitar o casamento dos dois, mas oferece a mão de Rosaura, a filha mais velha. Pedro aceita e Tita sentindo-se traída vê seu mundo desabar, até o momento em que descobre que a verdadeira intenção de Pedro era ficar por perto.

Para aumentar sua tristeza, Elena lhe incumbe dos preparativos do casamento da irmã. Neste ponto, assistimos ao primeiro encontro do filme com o místico. Tita chora dentro da panela de preparar bolo e quando todos na festa comem um pedaço começam a chorar por um amor perdido.

Tudo o que se deseja é que Tita encontre sua felicidade com Pedro, mas isso não é o que acontece no final. Quanto à mãe Elena, desejamos que morresse estrangulada ou envenenada por Tita.

A história apresenta alguns elementos de “Cinderela”. Elena é tão fria e má quanto a madrasta e Rosaura trata Tita como uma escrava.

“Como Água Para Chocolate” é rica em simbolismo e metáforas: a comida sensual e seus ingredientes, a filha de Rosaura que se chama Esperança e o próprio título do filme. A água para chocolate refere-se à alta temperatura que a água tem de atingir para liquidificar o chocolate.

O filme também nos mostra a condição de subserviência mulher mexicana (ou latino-americana).

Quanto à estética, achei o ritmo do filme um pouco lento - até parece que o tempo não passa. O filme é um pouco escuro (escuridão das vidas ou porque a maioria das cenas é interna?).

O cinema latino americano, a partir do final dos anos 80 tem apresentado uma safra de novos cineastas que buscam uma proposta mais independente em relação ao cinema comercial de Hollywood ou o cinema de arte europeu. Arau, Walter Salles, e outros têm se firmado como realizadores que conseguiram unir arte e lucro conquistando um público sensível e exigente e dizendo que o cinema neste lado do mundo pode, sim, ter uma identidade própria.

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