domingo, 25 de outubro de 2009

"O filho da noiva" por Lucas Andrade


O que faz de ‘O filho da noiva’ um bom filme? O fato de contar uma história envolvente? A fácil identificação do espectador com algum dos personagens? O tratamento melodramático do filme que, possivelmente, aumenta a interação do público com a obra? Os motivos para gostar do filme são muitos, porém, uma quantidade elevada desses argumentos se aterá ao conteúdo e não à forma. Isso não é, a principio, um ponto negativo, mas, de certo modo, limita a obra.

Se comparado à produção atual argentina, que apresentou ao mundo nomes como Lucrecia Martel e Pablo Trapero, O filho da noiva, filme de Juan José Campanella, talvez não seja uma obra inovadora. Martel por exemplo, em seu ‘O pântano’, subverteu o modelo clássico e repensou o modo argentino de fazer cinema. Isso é visto claramente em muitos momentos do filme, mas em especial no tratamento som. Tudo parece está super sensível, com uma intensidade que, em alguns momentos, faz o espectador ficar arrepiado.

O filme de Campanella, por sua vez, desde o roteiro (com uma curva dramática bem delimitada que segue os modelos Syd Fieldianos) até a montagem (usada de forma bastante transparente para que o espectador não a perceba) é bastante norteado pelo cinema clássico.

É certo que os apreciadores de um cinema mais inquieto sentirão falta de ruptura formais ao assistirem ao ‘O filho da noiva’, porém, não seria correto afirmarem que se trata de uma obra convencional por completa. Há uma complexidade nas relações dos personagens (tanto nas do filho com seu pai e com sua mãe como na do rapaz com sua namorada). Há seres humanos reais (com defeitos e qualidades e que faz o espectador ficar em dúvida quanto a gostar de certos personagens, como o principal, um homem atarefado que não tem tempo para ninguém, apenas para seus negócios). E há também uma profundidade na trama.

O filme conta a história de Rafael, o dono de um restaurante. Ele tem muito com o que se preocupar na sua vida: a velhice do seu pai, o alzheimer da sua mãe, a educação da sua filha. Porém, o rapaz não costuma prestar atenção nisso e parece tentar ajeitar apenas o seu restaurante. Após um infarto, Rafael repensa sua vida e estabelece novas prioridades. O filme tem certo tom melodramático, porém, a história é retratada de forma sutil, o que dá a ela um tom singular.

Outro ponto a chamar a atenção é o humor do filme. Talvez por estarem rodeado de circunstâncias tensas, há uma ironia incrível nos personagens, o que gera situações bastante engraçadas, como a da filha de Rafael que não agüenta mais ouvir seu pai repetindo que sua avó repete tudo por conta das perdas de memória que ela tem.

Seria uma injustiça, portanto, achar que ‘O filho da noiva’ não é um bom filme. É uma obra com momentos realmente interessantes (capazes de emocionar ou fazer rir) e ao que se propõe, é um filme de alta qualidade. Afinal, não se pode cobrar que todo cineasta pense como Godard.

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