segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"Em busca de memórias 2" por Nilson Braga de Almeida



Os bons professores que ministravam a disciplina de história, ainda na minha época de escola, já alertavam os alunos sobre o certo distanciamento com que deveriam observar as informações registradas nos livros. Esse olhar crítico, na opinião deles, seria fundamental na construção de um cidadão pensante e transformador, que não crê em tudo que ouve e vê, mas que averigua com esmero cada situação a seu redor.

E, em se tratando de nossa pátria-mãe, lembro-me bem que essa atenção deveria ser redobrada. Como fazemos parte de um povo dominado desde a suposta descoberta de nossas terras por Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500, as chances de haver divergências entre o que é ensinado em larga escala à população e o que de fato ocorreu e está ocorrendo é bem maior do que nos países desenvolvidos, pois inúmeros são os interesses sociais, políticos e econômicos ambicionados por estes sobre nossas nações e que estão escondidos atrás de coisas aparentemente comuns.

Adentrando agora apenas no aspecto nacional, local, chegamos à conclusão de que pouca coisa é diferente dessa situação. Os governos que passaram por aqui, sejam democráticos ou ditatoriais, liberais ou autoritários, sempre tentaram guardar e revelar apenas o que querem, apenas o que vai ser vantajoso e que lhes trarão benesses. O importante é noticiar aquilo que vai gerar ganhos. Tudo é visto com interesse.

Parando um pouco para pensar melhor na história contada nos países que fazem fronteira com o Brasil e, comparando-as com a daqui, observamos que não há nada de tão diferente. A América Latina sofre desse mesmo mal. Se olharmos, por exemplo, para nossos vizinhos argentinos, constataremos que a história dos livros também é essa: obscura, tendenciosa e parcial. E é exatamente esse complexo tema que o diretor portenho Luis Puenzo explora no filme A História Oficial (1985). Afinal, o que é verdade e o que é mentira nos livros didáticos? E na imprensa? Quanto de hipocrisia e falsidade chega até nós?

Não precisa demorar muito para ver que o longa poderia promover calorosos debates, com diálogos ácidos no decorrer da película. Mas, ao invés de penetrar a fundo nos questionamentos que surgem em determinados momentos – como nas cenas gravadas na sala de aula, assim como naquelas protagonizadas por uma personagem recém-chegada do exílio e, que passou, inclusive, por sessões de tortura, fazendo a partir daí florescer sérias discussões político-sociais – o cineasta preferiu dar ênfase a uma trama paralela onde predomina o lado pessoal dos personagens, seus dramas familiares.

A História Oficial ficou muito distante do rol das grandes obras cinematográficas, fazendo com que o espectador fique sempre esperando algo mais que o filme poderia proporcionar. Não deixa de ser relevante como resgate de um momento histórico nacional e, por que não, latino-americano. Porém, não empolga como deveria, chegando a ser apenas razoável em se tratando de cinema. O que valeu mesmo? A intenção de pôr o dedo na ferida.

2 comentários:

  1. aê nilson! muito bom o texto hein? abs!

    ResponderExcluir
  2. Vlw Gabriel!! O título não seria esse não cara. Vacilei e deixei o mesmo do Memórias... Mas até que gostei depois do 2 que Ângela acrescento. Abs!

    ResponderExcluir