domingo, 25 de outubro de 2009

"A mulher de todos" por Mateus Rafael



“A mulher de todos” apresenta-se como um filme tão anárquico quanto fragmentado- a narrativa não linear, o experimentalismo e o discurso libertário permeiam essa obra de 1969, percebendo-se uma forte influência da nouvelle vague, do neorrealismo italiano e de outras vanguardas já existentes na época.

A personagem principal, Ângela carne e osso, é interpretada por Helena Ignez e contradiz completamente a visão de uma mulher submissa. Ângela é autônoma sobre o seu sexo, mesmo sendo casada, e isso parece gerar uma atração irresistível e natural sobre os homens ao seu redor. O marido de Ângela, Plirtz (Jô soares), é um milionário boçal e arrogante; e é isso- ao que tudo indica- que faz com que ela se sinta atraída por ele, já que ela se define como a mulher dos homens boçais e o define como sendo o mais boçal de todos os boçais. Ângela encarna com suas atitudes libertárias todos os medos da família burguesa, que cerceia a liberdade feminina ao concentrar em si e na sua “honra” as bases dessa família tradicional. Contudo, a trama não se limita a isso e tem um ganho substancial ao ultrapassar a simplicidade de uma narrativa contínua e tradicional.

Ao contradizer a narratividade tradicional Sganzerla flerta com o experimentalismo característico de Godard e possui um discurso extremamente libertário, utilizando - se da liberdade da arte cinematográfica com maestria.

Às luzes da visão contemporânea essa obra não perde sua atualidade ao perceber-se o caráter imediatista das personagens e a efemeridade das relações amorosas típica dos dias atuais.

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