segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"O filho da noiva" por Yanna Luz


O Cinema argentino tem passado por uma revigoração desde a década de noventa, apesar da forte crise econômica atravessada pelo país. Os Filmes, por terem recentemente atestado um salto de qualidade técnica e de linguagem na produção nacional, proporciaram o lançamento internacional de nomes como Lucrecia Martel, Daniel Burman, Marcelo Piñero e Pablo Trapero. Nessa fase da produção da Argentina tem sido notável a predileção pela exposição intensa da crise da classe média do país, transpondo à tela com freqüência as dificuldades e frustrações de tal estrato social, funcionando, portanto, como uma espécie de antropofagia dos tempos recentes.

É também nesse contexto, e explicitamente, que encontramos ‘O filho da Noiva’, de Juan José Campanella. Com ritmo narrativo envolvente e roteiro bem estruturado, o filme conta a história, pincelada em tons atuais, de Rafael, ocupadíssimo dono de restaurante, que vive engolido pelo seu cotidiano estressante. Argentino de meia-idade, sem tempo para a filha, em conflito com a ex-esposa, com pouco tempo pros amigos, namorada, pai, e mãe, que não visitava no asilo há quase um ano. Como seria de suspeitar, toda essa correria deságua em um problema cardíaco que fará Rafael repensar o modo como leva sua vida, e reestruturar, especialmente, seus laços afetivos, o modo como lidava com as outras pessoas e consigo mesmo. Ao longo da exposição de tal tentativa de recomeço, o filme se encarrega de nos apresentar situações antes não imaginadas, que deslizam facilmente do emocionante para o engraçado.

É fato que o espectador não deve esperar do filme inovações estéticas ou estilísticas relevantes na condução da narrativa. Talvez aguardar apenas boas atuações, um roteiro bem amarrado e alguns diálogos bem feitos seja o ideal para não se desapontar. No filme não existe a vontade de revolucionar o cinema atual, nem de definir um formato sobre o qual o cinema latino americano deva se moldar, um padrão que deva seguir. Por outro lado, se prevenindo de tais aspirações, inicialmente bastante pretensiosas, o filme evitou um possível afundamento diante do público, apresentando tema de interesse geral, com firme identidade: o suficiente para arrebatar grandes platéias e faturar, inclusive, indicação ao Oscar, se definindo, por fim, como um bom alicerce, se não narrativo, no mínimo, financeiro e técnico para a cinematografia argentina. Interessante, sim. Mas é incerto se imperdível...

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