domingo, 25 de outubro de 2009

"Muita Água e Pouco Chocolate" por Alan Tonello



Tendo sido a produção estrangeira de maior bilheteria nos Estados Unidos em 1993 e uma das maiores do cinema latino-americano, “Como Água Para Chocolate” trata de um amor proibido, utilizando-se de recursos culinários para ganhar o público, já que não oferece nenhum tipo de ousadia na linguagem cinematográfica ao adaptar o romance para as telas.

Logo no início do filme, vemos que a personagem principal não terá uma vida fácil, partindo do seu bizarro nascimento em que litros de água são jorrados de sua mãe numa analogia com as lágrimas que permearão sua existência. Nascida em família conservadora Tita, como caçula, está fadada a tornar-se ajudante de sua genitora em sua velhice, sendo proibida de aceitar qualquer proposta de casamento, um costume que havia sido obedecido por gerações em sua família. Mas tão logo sabemos de seu fardo, conhecemos a causa de seu sofrimento: o amor proibido.

Desde criança, Tita era galanteada pelo jovem Pedro, e isso continuou até que sua mãe percebesse e tratasse de juntar o rapaz com sua outra irmã, Rosaura. Surpreendentemente o rapaz aceita, apesar de sua intenção ser a de ficar mais próximo ao seu verdadeiro amor. Por ter ótimos dotes culinários, Tita fica responsável pela cozinha na casa, preparando tudo para o casamento da irmã. É aí que entra o papel da comida na história. Entristecida pela perda de Pedro, a moça derrama suas lágrimas ao cozinhar, causando uma epidemia de choro no momento em que os convidados da festa comem o bolo seguido de uma seção de vômito coletivo. Por ser sempre reprimida por sua mãe e estar passando por uma situação complicada, a única forma pela qual Tita poderia se comunicar verdadeiramente com os outros protagonistas era através da comida, e a tristeza que passou pelo bolo não foi a única demonstração de seus sentimentos.

Em uma cena de bastante voluptuosa, Tita oferece um jantar preparado com codornas assadas às pétalas de rosas, estas presenteadas por Pedro. Ao comer, todos presentes à mesa começam a sentir sensações que vão de calor a prazer, sendo óbvia a interpretação sexual como verdadeira intenção, atingindo potencialmente Pedro.
Além de ter que conviver com seu amado ao seu lado sem poder se expressar, Tita sofria com a repressão da mãe, que sempre a tratava mal. Ainda assim ela não negava bondade a ninguém, sempre ajudando a família. Certo dia, devido à ausência de todos na casa, Tita é obrigada a fazer o parto do filho da irmã. Seu afeto pelo sobrinho é muito grande e ao saber que, em uma mudança que fizeram a San Antonio, no Texas, a criança morre, a moça fica mentalmente afetada, sendo enviada a uma clinica em Eagle Pass. Lá ela se vê livre de sua mãe, contra a qual já havia se rebelado. Mas devido a um ataque na fazenda onde morava, é obrigada a voltar ao local, onde descobre que sua mãe havia sido assassinada. Desenvolvendo um grande afeto por Tita, seu médico, o Dr. Brown, a pede em casamento, mas a moça insiste no fato de realmente amar a outro, ainda que ela demonstrasse grande apreço ao doutor.

Voltando à fazenda e mais uma vez tendo que conviver com Pedro, Tita se vê assombrada pelo fantasma de sua mãe, que a praguejava e atormentava por todo tempo. Isto seria uma clara metáfora ao pensamento da protagonista, que ficava dividida entre o amor de sua vida, que ao mesmo tempo era proibido, e o bom doutor.

A história, que possui uma trama bastante simples, é acompanhada por uma trilha sonora cansativa e bem antiquada, que chegam a dar sono devido a lentidão dos acontecimentos e a linearidade quase novelística da narrativa. Além de uma tentativa falha em mostrar a Revolução Mexicana, na qual se aprofunda pouquíssimo, o filme tem grandes contrastes de acontecimentos banais e bizarros, como o parto de Tita; a irmã, Gertrudis, correndo nua pela fazenda como resultado de uma refeição; metáforas com fósforos e etc. Mas o que mais se destaca foi a falta de preocupação, ou de capacidade, ao retratar uma passagem de 22 anos na história, em que somente um bigode é adicionado aos rapazes e um penteado de cabelo é mudado nas mulheres para retratar o envelhecimento. Ao final do filme, não nos interessamos mais na história de Tita, que já sabíamos onde terminaria, mas contamos diversos motivos para não assisti-lo novamente, e esperamos que o livro original, de onde saiu a história original, seja uma experiência melhor do que a cinematográfica.

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