domingo, 25 de outubro de 2009

"O filho da noiva" por Evandro Mesquita


O Filho da Noiva foi lançado na Argentina no auge da crise econômica por lá, em 2001, e reflete muito bem as características dessa crise em sua história. Confundindo-se entre comédia dramática ou drama cômico, possui as doses certas de cada gênero. O clima de pessimismo inundou os personagens que se vêem sem dinheiro e sem um rumo certo em suas vidas.

O filho do título é Rafael Belvedere (Ricardo Darin), o dono de um restaurante, pai divorciado, que sofre um ataque cardíaco prematuro. Quando acorda no hospital ele revela a sua namorada Naty (Verbeke) que tudo que ele quer é fugir de tudo e de todos, o que ele chama de e “ir à merda”. Naty fica um pouco decepcionada já que tinham um compromisso há algum tempo.

A noiva do título, que forma a outra história paralela, é a mãe de Rafael (Norma Aleandro), uma senhora já de idade que sofre do Mal de Alzheimer. O pai de Rafael, Nino (Hector Alterio), sonha em se casar na igreja com sua esposa enferma, pois seu casamento há 44 anos atrás havia sido apenas no civil. Rafael, a princípio, é contra, porém muda de idéia, indicando, dessa forma, uma mudança de seu comportamento e filosofia de vida a partir daquele evento.

Seus diretores, Juan Jose Campanella e Fernando Castets contam-nos uma história suave evitando o sentimentalismo barato, que é marca dos filmes americanos de mesmo gênero.

O título do filme talvez não faça jus à história, pois a narrativa atém-se mais aos conflitos de Rafael que ao recasamento dos pais. Rafael encontra-se perdido e amargurado, pois aquela altura, homem maduro que era, esperava-se estar estabilizado na vida, porém o que se vê é um homem inseguro nos negócios e, também na vida emocional, reflexo, como já apontamos, da própria Argentina, que na época (e até hoje) estava mergulhada numa crise econômica e social, deixando os hermanos deprimidos e perdidos. Em contrapartida está um velho amigo de infância, Juan Carlos (Blanco), que havia perdido a mulher e filha, mas que, no entanto, desenvolveu a habilidade de sorrir e de saber viver a vida.

Confesso que me emocionei com o filme. Achei de uma sensibilidade excepcional. Muito se fala do cinema como identificação. Pois bem, é possível que eu tenha me colocado como o personagem Rafael, que em algum ponto de minha vida me senti tão ou mais perdido que ele, mas que, a exemplo do protagonista, nunca desisti conseguindo, na medida do possível, superar as crises e seguir meu caminho sem precisar ir à merda.

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