domingo, 25 de outubro de 2009

"A mulher de todos" por Amanda Hureau



Quem sou eu?
Ângela Carne e Osso, a ultra poderosa maior inimiga numero um dos homens.

Mulher, perigosa, sensual, determinada, incontrolável, atrevida, intensa, histérica, firme, insaciável.

Rebelde?



Serei eu A mulher de todos? Será que a mulher de todos, é também a de todas?
Quem sou eu?

Ângela precisa de todos os homens. Humilha, bate, utiliza, domina. Ícone da subversão, ela inverte os papeis num intento de rebeldia. Feminista, pode ser. Limitado, sim. Sexista, talvez. Doido? Definitivamente!!

O filme usa e abusa dos estereótipos contemporâneos (a personagem central é um cânone de beleza, loira, magra, branquinha, estereotípica e estereotipada). Joga com o absurdo, com a caricatura, não tem estrutura nem coerência clara, e os personagens são os mais absurdos: um pseudo-torero que na realidade é cabeleireiro, um gordo empresário nazi, o único negro milionário do país (que também é o único negro do filme), Vamp... E ela fica com todos, com a exceção do seu marido.
Ela dança, bate, morde, fica, seduz. Ela fuma charutos. Ela é a mais desejada, e também a mais politicamente incorreta. Ela é como a ilha: extrema.

A mulher de todos não é só representativo daquela loucura dos anos 60 pré e pós-Woodstock. Ele resume a cultura Pop e Rock & Roll, ele joga com a transformação da identidade da sociedade brasileira nesses anos: aquela juventude americanizada e decadente, o protótipo de mulher bonita, a patética classe media, de certa forma a segregação racial e sexual. Uma mensagem de inconformismo. Um passeio da crítica à caricatura social; um filme cru, grosseiro, engraçado para alguns, horrível para outr@s.

Entretanto, para Ângela Carne e Osso, não tem importância. Ela não gosta de gente.

Apresentando-se como um filme apolítico para combater a censura, confirma-se finalmente aquela idéia (pouco) conhecida: que o político está em tudo, mas nem tudo pode ser político. O diretor se utiliza da cultura de massas para criticá-la, e levá-la ao seu extremo. Procura refletir o “mood” da época, com tudo o que é bom, e tudo o que não é. Diz não ao conservadorismo, à falta de liberdade –de expressão, e sexual- mas também grita: “Cuidado! Isso não é necessariamente amor livre. Isso não é necessariamente feminismo. Aquela ilha não é necessariamente o paraíso”.

Ângela é típica, mas ela é também rebelde. Assim como o filme.


Ambos questionam a identidade brasileira num momento delicado da história do país, e no contexto de mudanças no nível mundial. Critica as influências externas, e o fato de elas serem deformadas no contexto nacional. Interroga a identidade de mulher, e ainda mais a da mulher livre. Faz tributo à rebeldia, ainda traçando seus limites.

Finalmente, a fita traz mais uma vez a pergunta: Quem sou eu? Sou Ângela Carne e Osso, a ultra poderosa maior inimiga numero um dos homens.

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