
Fãs de cinema comercial do mundo todo provavelmente já assistiram ao trabalho do diretor argentino Juan José Campanella. Isso pode ser afirmado porque atualmente ele é o responsável por conduzir uma das séries americanas de televisão mais conhecidas, “Law and Order: Special Victms Unit”, além de já ter dirigido alguns episódios de “House” e “30 Rock”.
Fora as séries famosas, constam ainda interessantes filmes no currículo de Campanella. É o caso de “O Filho da Noiva” (2001), vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Gramado e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Sob um olhar superficial, o trabalho em questão pode parecer apenas mais um filminho de amor, uma comédia banal. Mas não é.
Rafael Belvedere (Ricardo Darín) é dono de um restaurante fundado pelo pai. O trabalho o consome o tempo todo, ele atende telefonemas a qualquer horário, briga com o chef porque precisa substituir ingredientes das receitas por outros mais baratos. Na vida pessoal, tem uma ex-mulher com quem se relaciona de forma complicada, uma filha que parece não lhe dar muita atenção, uma namorada, Naty, necessitada de mais carinho e o elemento de peso maior: uma mãe com Alzheimer. A única relação ainda normal é com o pai, Nino (Hector Altério). Para completar, ainda reaparece um amigo de infância, Juan Carlos (Eduardo Blanco), que se apaixona por Naty.
Rafael não visita muito a mãe, Norma, interpretada muito bem por Norma Aleandro. Ele sempre se sentiu cobrado por ela e acredita que, quando finalmente deu certo na vida (comandando o restaurante), ela não pôde enxergar o feito. Já o pai, Nino, ainda é completamente apaixonado pela esposa e a visita todo dia no asilo em que Norma ingressou por precisar de cuidados constantes. Surge então a ideia, prontamente rejeitada por Rafael: Nino quer se casar com Norma, porque a única coisa que ele ainda não a tinha dado foi um casamento na igreja.
Depois dessa exposição dos personagens, dos conflitos deles e da proposta inusitada, Rafael sofre um ataque cardíaco e muda seu ponto de vista em relação à vida e aos próprios sentimentos, deixando se envolver mais com quem o cerca. Desenvolvem-se, assim, momentos tocantes, de emocionar o público, e instantes de comédia. A alternância entre riso e drama é muito bem conduzida por Campanella. Acaba sendo uma boa representação da vida como um todo – apesar das horas felizes, há sempre a crise, e vice-versa.
O jogo “drama X comédia” também é acentuado pelo Alzheimer de Norma. Apesar dos momentos intensos, capazes de entristecer quem já teve algum parente com a doença, a mesma personagem é capaz de provocar risadas no espectador. Mas o humor no filme não se resume aos comentários de Norma. Há provocações, piadas sobre a situação argentina e referências a elementos populares da América Latina, como o Professor Girafáles. Outro fator cômico é uma pergunta que surge no filme e permanece entre os personagens e os espectadores, “quem é Dick Watson?”.
Um ponto diferencial desse longa para os outros mais comerciais está no elenco. Nem todos eles fazem parte do padrão universal de beleza, mas unanimemente têm o que importa: trabalham muito bem, acentuando a o trabalho de Campanella. Intimista e despretensioso, o diretor imprime seu estilo no trabalho. Apesar de assumir alguns recursos mais hollywoodianos, impõe sua própria forma de contar a estória, construindo sem esforço um filme representante da identidade argentina. Juan José Campanella constrói, assim, um bom exemplo de produção a ser seguido.
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