domingo, 25 de outubro de 2009

" O Filho da Noiva – uma comédia dramática argentina" por Annyela Rocha



Fãs de cinema comercial do mundo todo provavelmente já assistiram ao trabalho do diretor argentino Juan José Campanella. Isso pode ser afirmado porque atualmente ele é o responsável por conduzir uma das séries americanas de televisão mais conhecidas, “Law and Order: Special Victms Unit”, além de já ter dirigido alguns episódios de “House” e “30 Rock”.

Fora as séries famosas, constam ainda interessantes filmes no currículo de Campanella. É o caso de “O Filho da Noiva” (2001), vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Gramado e indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Sob um olhar superficial, o trabalho em questão pode parecer apenas mais um filminho de amor, uma comédia banal. Mas não é.

Rafael Belvedere (Ricardo Darín) é dono de um restaurante fundado pelo pai. O trabalho o consome o tempo todo, ele atende telefonemas a qualquer horário, briga com o chef porque precisa substituir ingredientes das receitas por outros mais baratos. Na vida pessoal, tem uma ex-mulher com quem se relaciona de forma complicada, uma filha que parece não lhe dar muita atenção, uma namorada, Naty, necessitada de mais carinho e o elemento de peso maior: uma mãe com Alzheimer. A única relação ainda normal é com o pai, Nino (Hector Altério). Para completar, ainda reaparece um amigo de infância, Juan Carlos (Eduardo Blanco), que se apaixona por Naty.

Rafael não visita muito a mãe, Norma, interpretada muito bem por Norma Aleandro. Ele sempre se sentiu cobrado por ela e acredita que, quando finalmente deu certo na vida (comandando o restaurante), ela não pôde enxergar o feito. Já o pai, Nino, ainda é completamente apaixonado pela esposa e a visita todo dia no asilo em que Norma ingressou por precisar de cuidados constantes. Surge então a ideia, prontamente rejeitada por Rafael: Nino quer se casar com Norma, porque a única coisa que ele ainda não a tinha dado foi um casamento na igreja.

Depois dessa exposição dos personagens, dos conflitos deles e da proposta inusitada, Rafael sofre um ataque cardíaco e muda seu ponto de vista em relação à vida e aos próprios sentimentos, deixando se envolver mais com quem o cerca. Desenvolvem-se, assim, momentos tocantes, de emocionar o público, e instantes de comédia. A alternância entre riso e drama é muito bem conduzida por Campanella. Acaba sendo uma boa representação da vida como um todo – apesar das horas felizes, há sempre a crise, e vice-versa.

O jogo “drama X comédia” também é acentuado pelo Alzheimer de Norma. Apesar dos momentos intensos, capazes de entristecer quem já teve algum parente com a doença, a mesma personagem é capaz de provocar risadas no espectador. Mas o humor no filme não se resume aos comentários de Norma. Há provocações, piadas sobre a situação argentina e referências a elementos populares da América Latina, como o Professor Girafáles. Outro fator cômico é uma pergunta que surge no filme e permanece entre os personagens e os espectadores, “quem é Dick Watson?”.

Um ponto diferencial desse longa para os outros mais comerciais está no elenco. Nem todos eles fazem parte do padrão universal de beleza, mas unanimemente têm o que importa: trabalham muito bem, acentuando a o trabalho de Campanella. Intimista e despretensioso, o diretor imprime seu estilo no trabalho. Apesar de assumir alguns recursos mais hollywoodianos, impõe sua própria forma de contar a estória, construindo sem esforço um filme representante da identidade argentina. Juan José Campanella constrói, assim, um bom exemplo de produção a ser seguido.

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